Para conhecer, preservar e valorizar o património religioso, o Departamento da Cultura e dos Bens Culturais da arquidiocese de Évora anuncia a elaboração de um guia de boas práticas para a conservação do património classificado. A iniciativa partiu do arcebispo, D. Francisco Senra Coelho e foi desenvolvida pela Direção Regional de Cultura do Alentejo
“Um pároco que precise de fazer uma intervenção, por exemplo, numa igreja, numa capela ou até mesmo num bem móvel, não o pode fazer de qualquer maneira, uma vez que deve obedecer a um conjunto de práticas que estão consignadas nas leis”, refere o cónego Mário Tavares de Oliveira, para justificar a preparação deste documento, “essencial para uma intervenção responsável.”
De acordo com a notícia avançada pela Renascença, o guia apresenta “aos párocos, eu diria, uma espécie de resumo das leis”, uma vez que foram “selecionados, precisamente, os pontos da lei que se referem a esse tipo de intervenções”, para fácil consulta e uma “intervenção devidamente enquadrada e contextualizada”, sublinha o diretor do Departamento da Cultura e dos Bens Culturais da arquidiocese de Évora.
“Penso que é um auxiliar muito importante, de grande utilidade para a conservação e restauro do nosso património, além de que pode servir de modelo a outras dioceses que estão na área da Direção Regional de Cultura do Alentejo”, observa, ainda, o sacerdote.
O anuncio deste guia de boas práticas é feito, à Renascença, a poucos dias de ser disponibilizada uma aplicação que visa facilitar o acesso e a atualização do inventário do património artístico da arquidiocese de Évora. Denominada “Inwebparoquias”, a aplicação, desenvolvida em parceria com a Fundação Eugénio de Almeida (FEA) vai permitir aos responsáveis pelos acervos paroquiais, registar todas as alterações verificadas nas coleções de arte sacra do seu concelho, desde a data da sua inventariação.
As alterações que poderão ser registadas através da aplicação incluem, por exemplo, os empréstimos para exposição ou a necessidade de intervenções de conservação e restauro, permitindo a atualização permanente desta informação. “Vamos dotar as paróquias de uma password, e já começamos a fazer formação nesse sentido, que permita aos seus párocos o acesso aos dados da sua paróquia ou da sua área pastoral, para que as comunidades, legitimamente, tenham acesso aos seus bens inventariados”, explica o responsável.
“Como sabemos, hoje em dia, a questão da segurança é muito delicada, e estes dados não podem estar acessíveis totalmente para todos, daí apostarmos na formação dos párocos”, lembra o cónego Mário Tavares de Oliveira. A aplicação, a apresentar no dia 17 de dezembro, traduz-se numa “base de dados de acesso público com informação sobre milhares de peças de arte sacra, documentos de arquivo e livros antigos que constituem os bens religiosos da diocese” .
“A expectativa da fundação é contribuir para a dinamização cultural da região e do país, bem como satisfazer o interesse do grande público em conhecer um património, riquíssimo, que é pertença de todos”, afirma, por sua vez, o arcebispo D. Francisco Senra Coelho, que é também o presidente da FEA.
“Ninguém estima e cuida aquilo que não conhece”, prossegue o prelado, e “só através do conhecimento preciso do património que se possui, é possível olhá-lo e compreendê-lo com outros olhos, outro espírito, e preocuparmo-nos com a sua conservação e dinamização”, conclui.
Considerado pioneiro em Portugal, o projeto de Inventariação Artística da Arquidiocese de Évora, foi lançado em 2002 pela Fundação Eugénio de Almeida, em colaboração com a Arquidiocese de Évora, com a finalidade de estudar, valorizar e divulgar um valiosíssimo espólio que, ao longo dos séculos, uniu a fé, a tradição e a cultura de uma comunidade e de um país.
Durante vários anos, uma equipa multidisciplinar de especialistas, efetuou a inventariação dos acervos de igrejas, capelas, seminários e instituições religiosas de 158 paróquias localizadas em 24 concelhos: Alandroal, Alcácer do Sal, Arraiolos, Avis, Borba, Elvas, Estremoz, Évora, Fronteira, Monforte, Mourão, Montemor-o-Novo, Mora, Ponte de Sor, Portel, Redondo, Sousel, Viana do Alentejo, Vila Viçosa, Reguengos de Monsaraz e Campo Maior, Vendas Novas, Coruche e Benavente.
Os profissionais, nas áreas de História do Património, História da Arte e Ciências Documentais, sob a coordenação técnico-científica de Artur Goulart, efetuaram o levantamento exaustivo de uma variedade de espólios e de objetos, disseminados pelos distritos de Portalegre, Évora, Setúbal e Santarém, desde a pintura, à escultura, às alfaias litúrgicas, aos têxteis, à joalharia, à numismática, à azulejaria, e a documentos de arquivo e livros antigos.
O resultado desse trabalho, é um acervo muito rico, de dezenas de milhares de peças e documentos que constituem verdadeiros tesouros de arte e devoção.
O projeto incluiu também uma componente de divulgação, com vários livros editados, assim como o site bilingue onde é possível encontrar o registo fotográfico, a história e função litúrgica das peças inventariadas.