Arcebispo de Évora cita no texto, e que foi apresentado no dia 4 de dezembro de 2019.
Porque pouco ou nada se fez? Não posso esquecer ou omitir o primeiro documento da Comissão Diocesana Justiça e Paz de Évora, intitulado “Despovoação e Migração no Alentejo”, por mim apresentado em conferência de imprensa no dia 4 de Dezembro de 2019.
Grato pelo excelente trabalho reflectido e elaborado pela Comissão Diocesana Justiça e Paz, permito-me refrescar a memória cultural, social e política do país que somos e lembrar no actual contexto de forte rumor político e mediático, as constatações então apresentadas e a disponibilidade para colaborar por parte da Igreja presente no Alentejo.
Vivia-se o Advento e aproximava-se o Natal, porém para esta nova forma de escravatura, nenhuma resposta surgiu, excepto o silêncio de muitos, mesmo tratando-se de um apelo urgente com consequências de desumanização.
Recordo apenas três parágrafos do referido documento:
- “Relativamente à migração, constata-se que o Alentejo está a ser um dos seus grandes recetores, não só a nível sazonal, mas também a título permanente, sobretudo para trabalhos relacionados com a agricultura (com ênfase na fruticultura, na floricultura e na pecuária). A migração em causa é fundamentalmente proveniente do Brasil, dos países de Leste (Roménia, Moldávia, Ucrânia, etc.) e da Ásia (Índia, Paquistão, Nepal, etc.) em que estes últimos, além dos problemas da língua, têm um conjunto de rituais e formas de vida (mais coletivo que individual – também por razões monetárias) a que devemos estar atentos. Infelizmente, em muitos destes casos, suspeita-se a existência de tráfico de pessoas com exploração das mesmas, quer por máfias dos seus países de origem, quer pelas entidades empregadoras”.
- “…a Igreja pode ser um parceiro privilegiado neste acolhimento, através dum acompanhamento próximo da realidade laboral e social, ajudando, dentro da sua esfera de influência local/regional, a uma melhor integração, principalmente através da projeção da visibilidade da sua realidade. A dismitificação de alguns tabus relacionados com outras religiões, a ajuda na aprendizagem da língua portuguesa, o apoio escolar e sanitário, o dar a conhecer os nossos costumes e rituais e o apoio ao conhecimento de direitos dos migrantes são tarefas que podem fazer a diferença na retenção de pessoas na nossa região e que o seu acolhimento seja o mais caloroso, humano e fraterno possível. Sabemos que destas questões se tem vindo a ocupar o Departamento de Acção Sócio-Caritativa da Diocese, nomeadamente, através da Cáritas. E, confiamos, que, agora em articulação com a CJP da Diocese, se irá continuar esse trabalho”.
- “Como reflexão final deixamos o repto de, numa primeira abordagem, denunciar/expor situações anómalas e não compagináveis com os princípios e os valores da Igreja Católica e da boa convivência entre pessoas (independentemente da sua raça, género, religião), propor medidas, que venham a criar um normal e rápido processo de integração, passando necessariamente pela agilização dos procedimentos e, dentro do possível, exercer pressão junto de entidades/individualidades que tenham/possam influenciar a decisão ao mais alto nível do Estado e das instituições públicas com responsabilidades nestes domínios.”
Com esperança e confiança na competência das autoridades constituídas, acompanhamos e apoiaremos todas as medidas regularizadoras, de fiscalização, e humanizantes para esta situação que toca os direitos fundamentais da pessoa humana.
Unimo-nos e solidarizamo-nos com a Diocese irmã de Beja. Permanecemos em comunhão de oração e caridade com as comunidades cristãs, sobretudo no Concelho de Odemira, na certeza que, como lembrou S. João Paulo II, “O Homem é o caminho mais directo para Deus”.