Jorge Araújo, antigo Reitor da Universidade de Évora, publicou hoje, um artigo alertando para os perigos que podem vir para a Universidade de Évora com a criação do “Campus Sul”, o projeto que junta a Universidade Nova de Lisboa, a Universidade de Évora e a Universidade do Algarve, anunciado nesta semana. Alerta para o “Cavalo de Troia” às portas da Universidade.
No artigo publicado na sua página de Facebook, o antigo Reitor começa por lembrar que “a Universidade de Évora é uma instituição histórica, relativamente pequena, que roça o limiar de sustentabilidade económica dada a reduzida dimensão dos efetivos escolares que frequentam os seus numerosos cursos, onde não se atingem “economias de escala” contrariamente ao que se verifica nas grandes universidades. Porém, a Universidade de Évora congrega um número significativo de competências científicas, facto que se espelha, por exemplo, em ser-lhe atribuída a coordenação de dois grandes Laboratórios Associados (650 investigadores!), um sobre Mudança Global e Sustentabilidade em Portugal e o outro, na área do Património, Artes, Sustentabilidade e Território”.
Continua escrevendo que “em tempos, foi gizado o projeto que dava pelo nome de Academia do Sul, o qual consistia numa federação entre as Universidades de Évora e do Algarve, os I.P. de Beja, Portalegre e Setúbal, bem como as instituições científicas como o CEBAL, o Campo Arqueológico de Mértola e a Fundação “Cidade da Ammaia”. Este projeto visava potenciar as sinergias, ganhar competitividade e melhor servir a Região. Contudo, não conseguiu convencer, nem vencer as rivalidades sub-regionais e as desconfianças entre os dois subsistemas de ensino superior”.
Sobre o projeto agora anunciado, o antigo Reitor Jorge Araújo diz que “agora surge um consórcio das Universidades de Évora (UÉ) e do Algarve (UA) com a Universidade Nova de Lisboa (UNL), o “Campus Sul”. Projeto aparentemente aliciante que traria, segundo declarações do Reitor da UNL, nova oferta letiva, novas capacitações para as administrações municipais e regionais, novos centros de investigação aplicada em áreas-chave como a água, a agricultura e o mar. A generosidade da UNL não conhece limites; anuncia-se a redução de propinas e milhões para reforço da ação social escolar. Por último, “a cereja em cima do bolo”, os alunos entrariam em Évora e Faro e terminariam os seus cursos na Nova, que os acolheria (de braços abertos, supõe-se) nos seus alojamentos; leia-se…licenciar-se-iam pela Nova, onde poderiam prosseguir as suas fileiras académicas. Esta é a parte visível do projeto…estão a ver?”
Estes os alertas e interrogações levantadas pelo antigo reitor da Universidade de Évora, num artigo de opinião publicado esta tarde na sua página de Facebook.
Onde é que está o “rabo escondido” ? Vejamos: o consórcio permitirá à UNL aceder, desde logo, aos financiamentos do Alentejo 20/30, bem como à parcela da “bazuca” que se destinar às energias alternativas (sol, ondas, hidrogénio), aceder aos Laboratórios marinhos de Sines e de Faro, beneficiar das Herdades Experimentais da UÉ no Baixo Alentejo (cerca de 1000 ha) que se encontram ao alcance da água do Alqueva, tirar proveito da Supercomputação da UÉ e do facto de a nossa universidade, potencialmente, vir a ser a primeira a ser conectada ao cabo de fibra óptica da EllaLink, que liga Fortaleza, no Brasil, a Sines. Por fim… o “filet mignon”… a Medicina! A licenciatura em Medicina da UA não teve boa avaliação e a UÉ não dispõe, para já, de corpo docente que sustente a obtenção, por parte da Agência A3ES, do “alvará” que lhe permitiria lecionar os ensinos formais da Medicina. Ora…isso para a UNL seria “canja” e, de uma penada, hegemonizaria o ensino da medicina a Sul do Tejo.
A UNL encontra-se entalada, na Região Metropolitana de Lisboa, pela mega universidade que resultou da fusão da “Clássica” e da “Técnica” e vê a sua ambição cerceada pelos “numeri clausi” que lhe são atribuídos pelo Estado. O grande sonho acalentado na Caparica foi sempre a expansão para sul, mas nenhum dos reitores anteriores, que conheci bem, teve o topete de lançar uma golpaça deste quilate.
O “Campus Sul” é, na verdade, um “cavalo de Troia” que a Reitoria da UÉ acolheu, correndo o risco de ficar para a história, como aquela que “entregou o tesouro ao bandido”, por um punhado de dinheiros.
Colegas, isto não é uma questão de direita ou de esquerda! Isto é a satelitização da Universidade de Évora e a sua subjugação aos interesses da Universidade Nova de Lisboa.
Acordai! Setembro está às portas!