Um projeto participativo em curso em Ouguela, no concelho de Campo Maior (Portalegre), quer inverter o despovoamento daquela aldeia, através da valorização do legado histórico, cultural e ambiental local e do saber ancestral dos habitantes.
Trata-se de “um dos dois únicos projetos do Programa Bairros Saudáveis aprovados no Alto Alentejo”, destacou hoje à agência Lusa Rui Andrade, presidente da entidade promotora da iniciativa, a Associação para a Educação Artística e as Literacias (AVOAR).
O projeto, designado Ouguela Comvida, pretende envolver os “cerca de 60 habitantes” da povoação, decorrendo em parceria com a Câmara de Campo Maior e a Junta de Freguesia de São João Baptista, explicou o responsável.
A ideia é “espoletar um movimento comunitário, que envolverá os habitantes, num processo de atualização e revitalização socioeconómica” da aldeia, segundo a publicação ‘online’ governamental Jornal dos Bairros Saudáveis.
Com as várias atividades a desenvolver, pretende-se “empoderar a população, através do autoconhecimento, do legado histórico, cultural e ambiental, estimulando a produção de artesanato e a valorização de produtos agrícolas para comercialização”.
Rui Andrade indicou que o projeto, que decorre até agosto deste ano, quer “envolver o maior número de habitantes possível” e fazer com que esta população “sinta orgulho da sua terra e do seu legado”.
“E até poderem eventualmente ganhar dinheiro com coisas que já fazem”, conseguindo, ao mesmo tempo, “interessar outras pessoas, novas ou que eram da aldeia mas saíram, a regressarem a Ouguela”, acrescentou.
Os primeiros passos do projeto, que já estão a ser dados, incluem “oito pequenos filmes”, criados em conjunto com moradores, “sobre os próprios habitantes e a aldeia”, estando também prevista a elaboração de um livro, apontou.
Além disso, pretende-se “reabilitar a aldeia para fruição de habitantes e visitantes, promover a abertura de um espaço comunitário” e “dar a conhecer Ouguela e as suas novas dinâmicas com o objetivo de atrair visitantes e novos habitantes”.
Antiga vila medieval e detentora de um castelo, Ouguela, perto de Campo Maior e “a menos de meia hora de distância de Elvas e de Badajoz”, é uma localidade “onde está tudo muito arranjadinho, pois, a câmara tem investido muito no edificado”.
Contudo, “chega-se lá e não há nada aberto”, lamentou Rui Andrade, referindo que, antigamente, a terra chegou a ter “três tabernas e três mercearias”.
Em tempos, também “teve 900 habitantes e duas salas de aula da escola primária a funcionar”, mas, hoje, “não há crianças” e a população esta envelhecida, relatou, frisando que “as pessoas estão entusiasmadas” com o contributo que podem vir a dar ao projeto.
Numa das salas de aula da antiga escola, até pode vir a funcionar “um café-restaurante” e já “há um casal entusiasmado com a ideia”, mas “todos podem prestar serviços simples”, como a “produção de artesanato” ou servir de “guia para os visitantes”.
“Queremos deixar sementes, até agosto, e estimular as pessoas”, disse o presidente da AVOAR, sediada em Castelo de Vide.
A iniciativa já tem o apoio institucional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e da Turismo do Alentejo e Ribatejo, que “está a inserir [a aldeia] em duas rotas, na do Turismo Militar e na das Fortalezas Abaluartadas”, frisou o responsável do projeto.