Foram libertados 21 exemplares juvenis de Tartaranhão-caçador, em Castro Verde, no âmbito do Plano de Emergência para a Recuperação do Tartaranhão-caçador (Circus pygargus). Trata-se de uma espécie migradora, que nidifica em Portugal, sendo a região do Alentejo uma das mais importantes para a sua reprodução.
O plano de emergência teve início no mês de março com a prospeção e localização de colónias e ninhos em áreas de produção de feno por parte do CIBIO/BIOPOLIS. A data de corte desta cultura forrageira coincide com a nidificação da Águia-caçadeira, pondo em risco ovos, crias e por vezes adultos também. A LPN desempenhou um papel importante no contacto com os proprietários e acompanhamentos dos trabalhos de corte de fenos em áreas reprodutoras da espécie e o ICNF terá coordenado as ações de resgate de ovos. Os ovos recolhidos foram encaminhados para um centro de criação (Gonçalo George Unipessoal, Lda.) onde foram incubados em instalações especializadas para o efeito.
Nesta fase, os ovos foram alvo duma monitorização constante, para que a incubação se realizasse com o adequado nível de temperatura e humidade e se maximizasse o sucesso da eclosão. Após o nascimento, no mesmo centro, iniciou-se o processo de alimentação das crias que se realizou em ciclos de quatro a cinco refeições diárias em ambiente climatizado até poderem ser transferidos para as instalações de aclimatação ao habitat natural (“hacking”). Estas instalações foram construídas especificamente para este fim em meio natural, na Herdade do Vale Gonçalinho, propriedade da LPN no concelho de Castro Verde. As primeiras crias foram transferidas para este local em junho, com aproximadamente 30 dias, para que fossem sendo preparadas para a sua devolução à natureza, que aconteceu ontem com sucesso.
Em 2011, na Zona de Proteção Especial de Castro Verde, foi estimada a presença de 214 casais reprodutores (MADRAP 2010, Monitorização da Comunidade das Aves Estepárias na ITI de Castro Verde). Em 2021, na mesma área, foi registada a presença de apenas 50 casais (segundo ICNF/CIBIO 2021). Estes valores indicam um decréscimo do número de casais em Portugal de aproximadamente 75% nos últimos 10 anos, que atinge os 85% no Alentejo. Neste período, assistimos à alteração das culturas e práticas agrícolas e pecuárias, aliado também à maior frequência de secas, que estão a provocar um declínio muito acentuado da espécie, que poderá significar o seu desaparecimento em Portugal
Foi devido à situação muito crítica em que a espécie se encontra no nosso país, que se iniciou este Plano de Emergência em Portugal, coordenado pelo ICNF, para evitar a extinção desta espécie em Portugal, com um esforço inédito em que foi necessário efetuar a incubação ex-situ (fora do meio natural) dos ovos para assegurar a sua sobrevivência e aumentar o número de juvenis que ingressam na população em meio selvagem.
O Plano de Emergência para a Recuperação do Tartaranhão-caçador, coordenado pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), resulta de uma colaboração com a LPN – Liga Para a Proteção da Natureza e ainda com o projeto “Searas com Biodiversidade: Salvemos a Águia Caçadeira” que inclui as entidades CIBIO/BIOPOLIS – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, o Clube de Produtores Continente, a ANPOC – Associação Nacional de Protutores de Cereais, a Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, a Sociedade para os Estudo das Aves (SPEA) e pelo Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO).
Para este resultado foi também essencial o apoio de diversas entidades, empresas, agricultores e cidadãos que de alguma forma deram contributos imprescindíveis para se alcançar este primeiro resultado, que terá que se repetir nos próximos anos para se salvar esta espécie da extinção em Portugal.