A Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores (FPAS) defende que a situação de seca e o aumento dos preços dos fatores de produção podem ser “uma oportunidade” para investir no uso eficiente da água e na gestão dos efluentes.
“Roteiro para a sustentabilidade ambiental e social da suinicultura” é o projeto que a FPAS está a desenvolver, numa parceria com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, a Universidade de Évora e o Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, para identificar as lacunas existentes no setor e “criar um documento orientador para os próximos 10 anos”.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da FPAS, David Neves, disse que o projeto incide em três vertentes, nomeadamente a valorização dos efluentes suinícolas, para que passem a ser tratados como um recurso em vez de um resíduo, o uso eficiente da água, a alimentação animal, as emissões atmosféricas e a eficiência energética nas explorações, com medidas que permitem “reduzir aquilo que é a fatura energética não só das explorações, mas essencialmente a fatura energética do país”.
O presidente da FPAS falava à Lusa no âmbito de uma visita a uma exploração suinícola em Salvaterra de Magos, distrito de Santarém, que avançou já com a implementação de medidas de melhoria da eficiência hídrica.
Relativamente ao impacto ambiental do setor, David Neves disse que “é sempre relativo”, realçando que a carne de porco é das que mais se consome em Portugal e considerando que associar a produção pecuária a questões ambientais é “inverter um pouco aquilo que é a realidade do processo”.
“Temos a particularidade de produzir um bem que é essencial para o dia-a-dia de cada um de nós, que é a carne que chega a cada um de nós, e, naturalmente, esse bem tem uma consequência ambiental, mas sendo ela devidamente trabalhada, devidamente mitigada, nós podemos converter aquilo que tem sido um problema numa grande oportunidade”, defendeu o produtor suinícola.
De acordo com os dados do Inventário Nacional de Emissões, produzido pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), publicado em março de 2020, o peso global da suinicultura nas emissões de gases com efeito de estufa em Portugal é de “apenas 0,34% no total de emissões do país e de 5,25% considerando apenas o setor da pecuária”.
Sobre o impacto da situação de seca que se vive em Portugal continental e o aumento do preço dos cereais, a produção extensiva é a que regista já dificuldades, indicou o representante dos produtores de suínos, considerando que o contexto atual pode constituir também “uma oportunidade para olhar para este setor de uma forma diferente”, no sentido de avançar com as medidas para sustentabilidade ambiental e social da suinicultura.
O aumento dos preços da carne de porco “é uma consequência inevitável”, com um acréscimo do valor pedido aos consumidores “muito próximo de 30%”, revelou o presidente da FPAS, explicando que a subida dos preços dos fatores de produção não começou com a guerra na Ucrânia, porque essa dinâmica teve início “em maio do ano passado, numa altura em que o próprio setor mergulhou numa situação de crise profunda”.
“Foi agravado pela situação da guerra e, naturalmente, este aumento substancial dos fatores de produção, nomeadamente o que tem a ver com os alimentos e com a energia, faz, necessariamente, com que os preços também ao consumidor tenham que acompanhar esta evolução, sob pena de uma falência completa do setor e, depois, sim, o país ficar com um problema particularmente importante, que tem a ver, naturalmente, com a falta de recursos, com a dependência externa relativamente a um bem tão importante como a carne”, declarou o responsável.
O contexto de aumento dos custos dos fatores de produção está associado a uma conjuntura internacional, “nomeadamente, no que tem a ver com os cereais, com a grande procura do mercado chinês”, apontou David Neves, referindo ainda a existência de uma quebra do preço pago aos produtores desde julho do ano passado, assim como uma contração de consumo devido à pandemia de covid-19.
Em termos de dimensão do setor de produção de porcos em Portugal, que se localiza “do Minho ao Algarve”, existem “cerca de 4.000 explorações” suinícolas de maior dimensão e “umas dezenas de milhares delas espalhadas pelo país inteiro” de pequena dimensão, algumas de caráter familiar, porque “a carne de porco continua a ser a carne mais consumida pelos portugueses“.
Por isso, acrescentou o responsável, “ainda existe a tradição em muitas zonas do país de terem pequenas explorações, com alguns animais para consumo familiar”.
Relativamente ao destino do que é produzido, cerca de 70% é para autoaprovisionamento em Portugal e o restante é para exportação, desde a China à vizinha Espanha, segundo o presidente da FPAS, que destacou ainda a capacidade dos produtores portugueses de competirem nos principais mercados do mundo em termos da produção de carne de porco.