O frio de dezembro não nos tolhe a fé, nem o impulso de a celebrarmos no encontro com a Senhora da Conceição no seu santuário, o quilómetro zero da alma de todos os Calipolenses.
Cruzamos as portas das muralhas do castelo de Vila Viçosa, sentindo o abraço do eco desse gesto centenário dos nossos avós. Nós somos o elo insubstituível e imbatível entre o futuro e essa História abençoada por Ave Marias no tom dolente, mas também tão imensamente crente do sul.
Aqui, na minha terra, não se morre, apenas se adormece atrás da Senhora da Conceição, e, dando continuidade aos tecidos bordados a ouro que lhe servem de régio abrigo, esse chão do sono eterno da minha gente, é o seu verdadeiro manto de rainha.
E aqui, nesta noite fria de dezembro de 2022, sentados no banco de madeira do seu santuário, por ela, nós olhamos o Céu, dos nossos, da eternidade.
Maria, porta aberta a rasgar todos os muros que possam existir entre nós e o paraíso.
Rezamos.
Que persista essa fé que nos abriga e que nos congrega como Calipolenses, e que a Senhora da Conceição, nos abra essas portas para o Céu, e nos lave o olhar que busca incessantemente o amor e a paz.
Pela sabedoria, e também por essa água da memória que, salgada, nos afaga a saudade das noites em que aqui viemos rezar com os nossos pais e avós.
Por Francisco Caeiro- Escritor Calipolense
