Responsáveis do ensino superior defenderam, hoje (dia 21 de dezembro) que a educação e a formação são importantes para o desenvolvimento económico, mas cabe à economia desenvolver estratégias para reter o talento em Portugal.
A ideia foi deixada num debate que juntou três responsáveis do setor sob o tema “Educação, Ciência e Saúde: Lições Aprendidas e Desafios do Futuro”, durante o Encontro Anual do Conselho da Diáspora Portuguesa, no Palácio da Cidadela, em Cascais.
“Não basta educar para as coisas mudarem. As economias têm de se preparar para absorver esse talento, para ter projetos ambiciosos e o país tem de ter estratégias que façam com que essas pessoas tenham vontade de mudar e de voltar para contribuir”, disse o diretor da Nova School of Business and Economics (Nova SBE).
A propósito da necessidade de reter no mercado de trabalho português os alunos portugueses e estrangeiros, Daniel Traça começou por considerar que a exportação de talento também faz parte da construção de uma rede portuguesa pelo mundo e que “o desafio é assegurar que essa rede traz valor para a escola e para Portugal”.
Mas esse retorno, acrescentou, cabe sobretudo à economia portuguesa assegurar, com um projeto que “seja capaz de atrair o talento e de fixá-lo cá”.
António Cunha, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Norte, concorda com esta visão e sublinhou que “ter o melhor capital humano a chegar ao ensino superior não é suficiente para fazer a reforma, mas é essencialmente essencial”.
A este propósito, e quando questionado sobre o perfil de competências dos alunos quando chegam às universidades, Daniel Traça acrescentou que as gerações mais novas têm expectativas diferentes e estão “muito pouco disponíveis para esperar por um futuro”.
“Quem tem de mudar são os empregadores. Têm de perceber como é que animam esta geração que quer sentir crescimento rápido, projetos de sucesso, impacto naquilo que está a fazer. O talento está lá, eles trabalham o que for preciso, mas têm de ser inspirados e motivados para o fazerem, porque não o fazem em nome de uma carreira que surgirá daqui a 10 ou 15 anos”, explicou.
Por outro lado, o diretor da Nova SBE considerou também que se trata de uma “geração demasiado académica” e criticou, desde logo, o modelo de acesso ao ensino superior, assente apenas nos resultados académicos, ignorando outras competências essenciais “para aquilo que significa ter sucesso”.
Ao longo do debate, António Cunha, que é também ex-reitor da Universidade do Minho, apontou a necessidade de as instituições cooperarem e competirem, enquanto o próprio sistema assegura a possibilidade de se diferenciarem.
“Devemos resistir à tentação, que por vezes temos tido no passado, de normalizar excessivamente e segmentar as universidades”, argumentou.
Sobre a cooperação entre as instituições de ensino superior, a reitora da Universidade Católica Portuguesa defendeu que as universidades portuguesas estão, sobretudo, a competir com as homólogas internacionais.
“Ou nós nos entendemos verdadeiramente, ou o reduzido talento que a diminuição demográfica está a evidenciar vai escapulir-se para outras geografias”, alertou.
Isabel Capeloa Gil comentou também o tema da igualdade de oportunidades no ensino superior e, apesar do balanço positivo quanto à paridade de género no acesso, disse que há ainda um caminho longo a percorrer quando se olha para o topo da carreira.
“Somos um país muito diferente, mas, se calhar, o progresso não foi ainda aquele que é absolutamente necessário”, afirmou, acrescentando que, sobretudo, em termos sociais, o acesso ao ensino superior não é paritário.
Fonte: ensino.eu