A primeira atuação da última noite do Festival Imaterial, que ao longo dos últimos dias preencheu a programação do Teatro Garcia de Resende, esteve a cargo da Tautumeitas, que vieram desde a Letónia apresentar um reportório que “bebe profundamente” na tradição letã.
Contudo, no mundo das Tautumeitas as canções da Letónia podem manter as suas origens melódicas, mas serem arranjadas de acordo com regras e características mais identificáveis com a pop global. O resultado é uma música que, apesar das suas óbvias especificidades, se torna familiar de forma instantânea, como se os três mil quilómetros que separam Portugal e Letónia fossem engolidos, de súbito, no curto intervalo de tempo em que dura uma das suas canções.
Como se não bastasse esta facilidade musical em “agarrar” o público que, uma vez mais, esgotou o TGR, arriscar “Saudade, Saudade”, de MARO, na língua de Camões foi a “cereja no topo do bolo” de uma atuação surpreendente e visualmente gratificante, com os trajes tradicionais a sobressair.
As Tautumeitas começaram por dedicar-se ao canto tradicional, repetindo e seguindo de perto as canções que lhes foram passadas pelos mais velhos. Só que, aos poucos, dizem, “à medida que se aproximavam das canções, as canções também se aproximavam delas”. Querendo isto dizer que se permitiram deixar de lado a reverência e a ideia de que a tradição é território intocável e sagrado, optando por trazer o seu universo de instrumentos e influências para os temas do reportório tradicional letão.