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Há 54 anos que Évora…

Siemens

Há 54 anos Évora mudou. Parece impossível como a instalação de uma Fábrica muda uma cidade e mesmo um boa parte desta grande região que é o Alentejo.

Não sei se na nossa Universidade de Évora que devia ter na sociologia o seu curso modelo, já alguma vez pensou em realizar um estudo sobre a mudança que produziu na sociedade eborense a instalação da Fábrica da Siemens. A maior empresa electrónica da Alemanha veio para Évora e hoje a sua sucedânea a Tyco Electronics comemora 54 anos de presença ininterrupta em Évora, o que prova numa análise superficial a qualidade dos trabalhadores alentejanos.

Não vou aqui neste meu espaço falar da produção, na qualidade dos produtos que daqui saíram para todo o mundo, vou antes relembrar a importância da Fábrica, como todos falavam da Siemens na cidade ou na Siémes, como diziam nas localidades circundantes.

Em 1969, Évora e o Alentejo era uma zona rural, a agricultura dominava e com ela ia sobrevivendo uma sociedade rural avessa a mudanças de hábitos mantendo os velhos costumes.

A Fábrica rompeu com tudo, a necessidade de mão-de-obra e principalmente feminina revolucionou toda uma sociedade. De repente as mulheres trocaram os trajes do campo por batas brancas, misturavam-se com os homens não numa relação de dependência, no campo haviam os ranchos de mulheres que mondavam ou ceifavam e tinham um capataz, ali na Fábrica elas trabalhavam lado a lado.

Ai o que se dizia das mulheres da Fábrica, ai o que elas ouviam, ai como elas souberam mudar a sua vida e com ela a sociedade que custou a acostumar-se a ver as mulheres com salário igual (?) aos homens e podendo até amealhar algum dinheiro, com os prémios de produção.

Como a cidade se espantou com os ranchos de mulheres saindo dos autocarros e percorrendo as ruas da cidade entrando nas lojas e comprando, Como ficou mais bonita a cidade, como ficaram mais felizes os homens como evoluiu a cidade que continuava cinzenta e avessa à mudança.

Das localidades próximas vinham homens para a Fábrica, também eles estranharam, a luz do sol era substituída pelas luzes das lâmpadas, os horários também eram diferentes as roupas os hábitos começaram a mudar. Até tinham férias pagas.

Muitos mudaram-se para a cidade e com eles vieram as famílias e as escolas começaram a encher-se de miúdos e o elitista Liceu Nacional de Évora recebia agora filhos de operários e a Escola Industrial ensinava profissões que não a agricultura.

Havia mais dinheiro e dinheiro todo o ano todos os fins dos meses, tudo ia mudando, até nos clubes de Évora, o Juventude começava os seus anos dourados, com a industria e o comércio a substituir a agricultura, e por isso os anos 70 foram de grande dinamismo para o Juventude clube dos operário e o inicio do declínio do Lusitano tido como clube dos agricultores. Houve até um intercâmbio entre o Juventude e um clube da Alemanha. Évora já não era a mesma e começou a mudar alguns anos antes do país mudar e tudo isto porque a Fábrica se instalou na cidade.

 

Texto de Mário Simões

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