O Sindicato dos Professores da Zona Sul está preocupado com a falta de professores no Alentejo.
Em comunicado enviado à nossa redação, o Sindicato dá conta que “
O arranque deste ano letivo, para além de variados problemas por resolver, fica marcado pela preocupante falta de professores em praticamente todas as escolas e pela inércia do governo em encontrar caminhos e soluções.
A indisfarçável falta de professores tem tendência a agravar-se, pois este ano letivo acompanhou a evolução negativa dos últimos três anos.
O Sindicato dos Professores da Zona Sul – SPZS, à semelhança dos últimos anos, procedeu ao levantamento dos horários em falta na sua área sindical, os distritos de Portalegre, Évora, Beja e Faro.
Comprovámos, mais uma vez, que a falta de professores é um problema que tem vindo a agravar-se nos últimos anos, e para o qual o SPZS há muito vem alertando e apresentando soluções. O número de professores em falta nesta semana está a afetar mais de 90 mil alunos a nível nacional, superando o máximo semanal registado no ano anterior, precisamente na semana de 12 a 16 de setembro de 2022, quando foram submetidos 1.147 horários, com 16.497 horas, afetando pouco mais do que 80 mil alunos.
Do levantamento realizado, podemos concluir que nos 89% dos agrupamentos de escolas da nossa área sindical que responderam, existem horários por preencher, sendo a sua maioria, cerca de 50%, no 3º Ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário, tal como a tendência a nível nacional.
Na passada semana (de 11 a 15 de setembro), só na nossa área sindical, cerca de 16.455 alunos não têm professores a todas as disciplinas, sendo o distrito de Faro o que apresenta o cenário mais grave, com cerca de 118 horários por preencher, o que equivale a 1.760 horas, e afetando 8.800 alunos, como são os casos dos agrupamentos de escolas Pinheiro e Rosa, com 15 horários por preencher e Silves Sul com 8 horários a concurso. Realidade que cada vez é mais preocupante e evidente neste distrito onde o mercado de arrendamento é cada vez mais incomportável ou inacessível ao corpo docente, impedindo muitos professores de concorrerem a estes horários, dados os condicionalismos a que a profissão e a carreira docente estão sujeitas.
Bastante preocupante é também a situação no distrito de Beja, onde há cerca de 47 horários por preencher, correspondentes a 826 horas, com 4.130 alunos afetados, sendo este o distrito do país onde a média de horas por horário é maior. Dos vários agrupamentos com professores em falta, destacamos o AE de São Teotónio com 14 horários sem professor, o AE N.º2 de Serpa com 7 horários, o AE de Ourique com 6 horários ou o AE de Alvito com 4 horários sem professor (num concelho com pouco mais de dois mil habitantes). Tendo em conta a realidade do Alentejo e do distrito de Beja, as grandes distâncias entre escolas, a tipologia dos acessos e vias de comunicação, a dificuldade em arrendar casa, a dimensão dos próprios agrupamentos, estamos perante um avolumar de problemas que estão a condicionar a qualidade das respostas educativas.
De relevar ainda, os distritos de Évora, com 26 horários por preencher, o que estará a afetar 1.955 alunos e, o distrito de Portalegre com 21 horários por preencher, o que equivale a 314 horas e cerca de 1.600 alunos afetados.
A falta de professores é mais notória nos grupos de recrutamento que abrangem o 3º CEB e Secundário, nomeadamente nas disciplinas de Informática- 550, Português-300, Matemática – 500, Inglês – 330, História-400, Geografia-420, Biologia-520, Física e Química-510. Existem ainda muitos horários por ocupar no grupo de recrutamento 220 – Português Inglês do 2º CEB, assim como é bastante preocupante a falta de recursos humanos na Educação Especial.
O SPZS irá continuar a acompanhar a evolução da situação em toda a Zona Sul, alertando para a necessidade de mobilização em defesa da Escola Pública e, em particular, para a compreensão do problema da falta de professores, que é consequência de políticas continuadas de desvalorização da profissão docente.
No passado dia 1 de setembro, o SPZS/FENPROF entregou mais uma vez no Ministério da Educação uma proposta fundamentada sobre esta e outras questões, com contributos para a tão necessária atratividade da profissão docente, algo que, apesar do discurso dos governantes, aparenta ter caído, mais uma vez, em “saco roto”.
A complexificação dos processos de trabalho, com uma enorme burocratização do trabalho docente, falta de condições de trabalho, degradação de edifícios e dos equipamentos, insuficiente investimento na sua modernização, manutenção de uma elevada precariedade laboral, baixos salários e baixas perspectivas de valorização das pensões de aposentação, destruição da carreira, incluindo, bloqueamento no acesso aos escalões de topo, elevado desgaste físico e psíquico, inexistência de um regime de gestão promotor da participação dos professores nos níveis de decisão e uma crescente dependência de “vontades” conjunturais das autarquias, entre outros aspetos, somam razões para que o número de jovens que querem ingressar na profissão docente seja muito reduzido, o que é uma ameaça para o futuro que tem de ser encarada com seriedade. Este é, hoje, sem dúvida, um dos grandes problemas que afetam todo o sistema educativo.”