Gonçalo não podia faltar à festa e dar de caras com a bisavó, sorridente, de faixa de aniversariante à tiracolo. Perpétua Rosa Pacífico celebrou 105 anos esta quinta-feira entre família e amigos em pleno lar da Associação de Proteção dos Idosos da Freguesia de Terena. Nunca ninguém alcançou semelhante longevidade por estas paragens. E até revelou ter energia afinada à hora de soprar as velas.
Regressemos ao bisneto, que viajou desde Almada para marcar presença em tremendo acontecimento. “Tenho 25 anos e poder dizer que tenho uma avó com esta idade é algo incrível. Quando conto aos meus amigos, eles acreditam, mas é difícil de perceber que alguém tenha chegado tão longe”, relata o jovem.
Gonçalo lamenta que nos últimos tempos a avó não tenha contado tantas histórias como num passado bem recente. Mas, caramba, hoje é dia de cantar os parabéns e o bolo com cerca de cinco quilos está ali para adoçar a festa.
Apresenta-se sentada na fila da frente, com a faixa de aniversariante, mas a audição já teve melhores dias pelo que a neta Manuela ajuda à conversa com a Rádio Campanário. Nasceu em Terena. Conta-nos que trabalhou “a vida toda”, que deu no duro pelos campos do Alentejo, até deitar mãos a tarefas menos exigentes em casas de Almada, para onde foi viver a dada altura da vida.
“Todas as senhoras eram muito minhas amigas”, recorda a aniversariante, revelando que também em Terena trabalhou em muitas habitações, incluindo “a da senhora doutora”, diz-nos, assumindo que se “aborrece” de já não ter paciência para fazer renda. É que ainda há pouco tempo pegava em duas agulhas, saindo das suas mãos “obras lindíssimas”, garante assertiva.
“Fazia tanta renda para tanta gente. Toalhas, dessas que vendiam. Eram tão bonitas, em branco, com flores. Esta neta tem lá uma”, revela , apontando para Manuela, enquanto assume a relação especial: “Foi a neta que mais gostou de mim”.
O Executivo Municipal também compareceu na festa, dando expressão à importância do momento. O presidente João Maria Grilo congratulava-se com o caso particular de Perpétua, como um exemplo de quem teve que sair de Terena à procura de vida melhor, mas que regressou à terra e encontrou aqui “estabilidade e apoio. É sempre bom ver isso”, sublinhava o autarca, destacando como além dos 105 anos de Perpétua, também há por aqui quem já tenha ultrapassado o século e quem esteja à beira de o fazer em breve.
Ângela Palhoco, diretora técnica e assistente social no lar de Terena, confirma que Perpétua é a utente com mais idade da história do lar e que “tem aqui um segunda família”.