Em Cabeço de Vide, freguesia alentejana do concelho de Fronteira, as cerca de mil pessoas que vivem na vila já estão habituadas a ver investigadores, portugueses e estrangeiros, andarem cá e lá com complicados aparelhos de análise e medição. E, na verdade, sentem-se orgulhosos pela atenção dispensada ao património local.
As propriedades terapêuticas das águas minerais naturais da zona são conhecidas e usadas há centenas de anos, mas, em 2000, o então diretor técnico das Termas da Sulfúrea solicitou ao Instituto Superior Técnico (IST) um estudo para melhor as conhecer e preservar.
As águas captadas na nascente Ermida das termas começaram a despertar maior a atenção das universidades portuguesas e internacionais (Itália, Japão, EUA), e a NASA.
Na origem de todo este interesse e de tantos estudos académicos está um processo geoquímico chamado serpentinização, que acontece quando uma rocha rica em magnésio e ferro é convertida em minerais de argila do grupo das serpentinas. Juntamente com o pH elevado, este processo produz hidrogénio que, por sua vez, pode conduzir à formação de microrganismos, ou seja, gerar vida.
A água de Cabeço de Vide não está indicada para beber, salvo em pequenas quantidades e apenas por indicação médica, já que tem um pH de 11,5 e o limite para consumo humano situa-se nos 9,5. Tem, no entanto, propriedades terapêuticas – sobretudo associadas aos elevados níveis de enxofre – que resultam da sua interação com a pele e o sistema respiratório, e das quais é possível usufruir nas Termas da Sulfúrea.
Cabeço de Vide é considerado um laboratório natural porque tem um ambiente hidrogeológico e uma interação água-rocha que poderá ser em tudo semelhante à que ocorreu ou que decorre atualmente no planeta Marte” (Carla Rocha, investigadora)
As respostas para as grandes perguntas da Humanidade podem estar escondidas em todo o lado. Até (ou sobretudo) em Cabeço de Vide.