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A água no Alentejo já era escassa há dois mil anos, segundo interpretação do epigrafista José d’Encarnação

A água sempre foi um recurso precioso para a humanidade, a ponto de ter sido sacralizada. São conhecidas em todo o território do Império Romano representações aquáticas ou de divindades associadas à água, muitas vezes em geografias próximas de rios, ribeiros, ou do próprio mar, mas também em articulação com a própria arquitectura: templos, ninfeus, jardins com cisternas ou tanques, o impluvium ou as termas.

O mosaico proveniente da cidade romana de Dougga na Tunísia (classificado como Património Mundial) evoca a imagem de um escravo com a missão de oferecer água aos seus senhores e dá conta da transversalidade deste recurso vital nas regiões mais áridas do império. Também no território que é hoje Portugal e na região do Alentejo, a água já era escassa há dois mil anos. Grandes estios e uma irregularidade no regime das chuvas no clima mediterrâneo foram fenómenos recorrentes ao longo da história de ocupação do território. Em 1870, a descoberta num campo da freguesia de Ervedal, no concelho de Avis, de uma ara votiva consagrada à divindade das fontes Fontanus comprovou que, em pleno Império Romano, também se sentiam os problemas da falta do precioso líquido.   

O texto que se encontra nesta ara refere que o proprietário do escravo Threptus, Caius Appuleius Silus, fez um voto de agradecimento pelas águas que o seu cativo descobriu. Esta peça que se encontra integrada na exposição das Religiões da Lusitânia no Museu Nacional de Arqueologia foi oferecida ao seu fundador José Leite de Vasconcelos em 1912.

Caius Appuleius Silonis poderá ter sido um importante senhor na zona de Ervedal, no Alentejo. Esta invulgar ara, descoberta há mais de um século, foi dedicada por um dos seus servos às divindades que permitiram a descoberta de água na propriedade, segundo interpretação do epigrafista José d’Encarnação.

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