D. Franciso Senra Coelho, Arcebispo de Évora deu a conhecer a sua Mensagem Pastoral sobre a Visita Pastoral à Vigararia de Elvas que inicia no próximo domingo.
Ao meditar sobre o ministério episcopal que Nosso Senhor Jesus Cristo me confiou através da Sua Igreja, renovei a minha consciência face ao dever que me é confiado de visitar pastoralmente esta Arquidiocese de Évora, com todo o zelo, diligência e caridade que tal missão exige.
Relendo o Cânone 398 do Código de Direito Canónico, é-me dito: «o Bispo efectue a visita pastoral com a devida diligência»; um comentário feito a este dever de efectuar com diligência as Visitas Pastorais, esclarece que «a visita tem uma dupla finalidade: serve para o Bispo se informar de modo directo sobre a situação e circunstância da Igreja particular, e para animar todos os fiéis a cumprir cada vez com mais intensidade os seus próprios deveres» (Directório Ecclesiae imago nº 166-170).
Como sabemos, sendo o Bispo um sucessor dos Apóstolos, cabe-lhe a missão de seguir o Mestre e «O testemunho que o Senhor dá de si mesmo e que São Lucas recolheu no seu Evangelho, “Eu devo anunciar a Boa Nova do Reino de Deus”, (12) tem […] uma grande importância, porque define, numa frase apenas, toda a missão de Jesus: “Para isso é que fui enviado” […]. Andar de cidade em cidade a proclamar, sobretudo aos mais pobres, e muitas vezes os mais receptivos para o acolher, o alegre anúncio da realização das promessas e da aliança feitas por Deus, tal é a missão para a qual Jesus declara ter sido enviado pelo Pai» (Evangelii Nuntiandi, nº 6). Compreendamos, que é no contexto Bíblico que se enraízam as Visitas Pastorais. O cumprimento desta missão pastoral da Igreja foi-se organizando e concretizando consoante as necessidades manifestadas através dos tempos, mas é no contexto Neo-testamentário que se fundamentam as Visitas Pastorais dos Apóstolos e seus colaboradores às comunidades cristãs nascentes. Assim, a Visita Pastoral é uma das mais antigas instituições da Igreja, remontando à Época Apostólica.
Logo no início da evangelização, São Paulo delegou em Tito e Timóteo a visita às igrejas que havia fundado em Creta e Éfeso e às quais transmitiu os «ensinamentos da fé» (1 Tim 4, 6). Pregar e ensinar a doutrina de Cristo são as principais funções do enviado do Apóstolo. Timóteo recebeu o encargo de transmitir o depósito da fé e de ordenar ou confirmar no ministério os bispos, presbíteros, diáconos e diaconisas (1 Tim 3, 1-12; 5, 17-21). Esta missão de visitar e acompanhar o crescimento e o amadurecimento das comunidades cristãs da parte do representante do Apóstolo estendia-se a todas as classes sociais: mulheres novas e anciãs, viúvas e casadas, jovens e idosos, esposas e crianças, ricos senhores, servos e escravos (1 Tim 5, 1-16).
2 – A Visita Pastoral que vamos iniciar, vai certamente proporcionar o encontro com as queridas Comunidades Cristãs presentes no território que constitui a Vigararia de Elvas, nos Concelhos de Elvas, Campo Maior e Monforte, mas também permitirá que o Bispo dialogue pessoalmente com homens e mulheres, jovens e crianças de quem humanamente irá receber muitas experiências de vida e a quem abrirá o seu coração de pastor da Igreja. A propósito destes encontros pessoais na proximidade, compartilho um texto do saudoso Papa S. Paulo VI: «ao lado da proclamação geral para todos do Evangelho, uma outra forma da sua transmissão, de pessoa a pessoa, continua a ser válida e importante. O mesmo Senhor a pôs em prática muitas vezes, por exemplo as conversas com Nicodemos, com Zaqueu, com a Samaritana, com Simão, o fariseu, e com outros, atestam-no bem, assim como os apóstolos. E vistas bem as coisas, haveria uma outra forma melhor de transmitir o Evangelho, para além da que consiste em comunicar a outrem a sua própria experiência de fé? Importaria, pois, que a urgência de anunciar a Boa Nova às multidões de homens, nunca fizesse esquecer esta forma de anúncio, pela qual a consciência pessoal de um homem é atingida, tocada por uma palavra realmente extraordinária que ele recebe de outro» (Evangelii Nuntiandi, nº 46).
Como não recordar aqui um episódio decorrido na Visita Pastoral do nosso querido Papa Francisco à paróquia de S. Paulo da Cruz, na periferia de Roma, no passado dia 15 de Abril de 2018. Refiro-me ao abraço entre o menino Emanuel e o Papa Francisco. O menino, comovido perguntou ao Pontífice se o seu falecido pai, ateu, também estaria no céu. Fora uma pergunta sussurrada ao ouvido do Papa, que prontamente o consolou com um longo abraço e com as seguintes palavras “o teu bom pai não tinha o dom da fé mas tinha um grande coração!”. Pois apesar de ser ateu, o pai do Emanuel pediu à Igreja de Cristo o baptismo para os seus quatro filhos (in Vatican News, 12 julho, 2018). Momentos como este, não são raros nas visitas que o Papa Francisco realiza nas paróquias romanas. São estes encontros pessoais que desejo estabelecer com todos os que sedentos de esperança, se possam encontrar comigo, no meu mais profundo desejo de ser Bispo em saída, como discípulo missionário da Esperança, que anseia procurar e acolher todos os corações humanos sedentos de esperança ou de mais luz da Fé.
Assim, saúdo com especial amizade e esperança as paróquias, todas as comunidades cristãs, movimentos eclesiais e associações de fiéis. Saúdo os Presbíteros, Diáconos, os Religiosos e as Religiosas, os Seminaristas as Famílias com os seus casais, os seus filhos e idosos; saúdo com respeito e apreço as autarquias, as autoridades e serviços públicos, as Santas Casas da Misericórdia, as instituições de Solidariedade Social, o associativismo e todo o empreendedorismo empresarial e pessoal; saúdo a cultura popular e os artesãos, as iniciativas desportivas e todos os meios de comunicação social regional e local. Seja-me permitido saudar com especial afecto as escolas, os colégios, o Hospital de Santa Luzia, em Elvas, e os centros de saúde, o estabelecimento prisional de Elvas e todos os cuidadores de idosos e de pessoas com deficiência. Com todos quero partilhar as alegrias e as tristezas, numa proximidade humana pautada pela transparência, pela verdade e pela solidariedade.
3 – Esta Visita Pastoral que decorrerá de 19 de Janeiro a 30 de Maio, insere-se na rica tradição da nossa Arquidiocese, que desde D. Manuel Mendes da Conceição Santos (1921-1955), até D. José Francisco Sanches Alves (2008-2018), sempre viveu intensamente as Visitas Pastorais, inserindo-as no contexto missionário que as deve caracterizar. Por isso, o Pastor Diocesano, participa em cada momento programado da Visita Pastoral, com espírito missionário, partindo sempre da experiência e da partilha humana para que a luz do Evangelho se faça presente e Cristo surja no meio de nós, como na estrada de Emaús.
Será minha missão continuar na peugada dos missionários e missionárias que efetuarão a primeira parte da Visita Pastoral e acredito que esta seja depois localmente continuada, pelas comunidades cristãs que saberão desenvolver os apelos da Evangelização no tríplice ministério da Catequese, da Liturgia e da Caridade.
Agradeço desde já a todos os Missionários e Missionárias que comigo vão realizar esta primeira série de Visitas às 19 paróquias da Vigararia de Elvas. Confio muito nos irmãos e nas irmãs leigos e leigas, que nas Paróquias, Movimentos Eclesiais e Associações de Fiéis saberão ser um com Jesus Cristo e fazerem tudo pela Missão. O vosso apoio e a vossa presença são indispensáveis, pois todos os cristãos são missionários.
Consagro esta Visita Pastoral Missionária à misericórdia do Coração de Cristo, através da oração e sacrifício de todos os que se sentem cristãos. Peço especial generosidade aos doentes, aos sós, a todos os Religiosos e Religiosas e às Comunidades Contemplativas. Creio na força da vossa oração!
Maria estará sempre connosco! Ela virá connosco, através da Imagem Peregrina de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, a nossa Padroeira que sempre nos acompanhará.
Saibamos, como Ela, ser um SIM total e permanente a Deus levando a beleza do Seu Amor aos irmãos que O esperam.
+ Francisco José Senra Coelho, Arcebispo de Évora
Oração da Visita Pastoral
Senhor Jesus,
Tu que outrora percorreste os caminhos da Galileia acolhendo preces e súplicas, socorrendo os pobres e aflitos, curando chagas e suavizando dores:
– Dá-nos hoje a luz do Teu Espírito para sabermos acolher também os sofrimentos do nosso tempo, imitando os teus gestos de amor. Como família diocesana estamos prontos para partir ao encontro dos irmãos que se afastaram da experiência da fé, dos que sofrem discriminações, dos que são vítimas de todo o tipo de violência e dos que, perdidos, imploram um abraço de esperança.
– Que as nossas comunidades sejam como uma mãe de coração aberto sempre disponível para abraçar os filhos desorientados mas famintos do teu amor.
– Maria, nossa Mãe que acolheste o Verbo de Deus no teu seio e partiste apressadamente atravessando montanhas e abraçando perigos, ensina-nos a ter um coração semelhante ao teu para revelar ao nundo o rosto salvador do teu divino Filho, fonte da esperança e único Senhor capaz de libertar os corações atribulados.
– Maria, Mãe da Igreja, acompanha a Visita Pastoral que o nosso Arcebispo deseja realizar à Vigararia de Elvas, com os seus três concelhos: Elvas, Campo Maior e Monforte. Que pela Tua intercessão seja um Tempo Propício e fecundo e de sementeira missionária e que pelo Teu olhar maternal dê muito fruto de salvação.
Senhora, vem connosco!