O Programa ATL-100 promovido pelo CEiiA (Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto) e pela DESAER (Desenvolvimento Aeronáutico), vai centrar na cidade de Évora o desenvolvimento, fabrico e operação de uma nova aeronave ligeira, criando em cinco anos 1.200 postos de trabalho qualificados. O projeto foi apresentado na tarde de ontem, dia 25 de setembro, no Parque do Alentejo de Ciência e Tecnologia (PACT), em Évora, e contou com a presença da Ministra da Coesão Social, Ana Abrunhosa e do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor.
Em declarações aos jornalistas, Miguel Braga, diretor do CEiiA, para a Aeronáutica e Defesa, explicou que o ATL-100 “100 é uma aeronave de transporte leve, para operar em pistas com condições não muito exigentes, com um alcance de 1.600 kms. Pode parecer muito para Portugal ou para a Europa, mas para os países de destino Africa, América do Sul são distâncias curtas” e que “está preparado para aterrar e levantar voo em aeródromos, que tipicamente não podem receber outra tipologia de aeronaves, em função de terem pistas, por exemplo, de 600m, que não permite aterrar ou levantar voo”.
“É uma aeronave preparada para logística e para transporte de até 19 passageiros e é uma aeronave com uma capacidade e uma flexibilidade que permite, por exemplo, apenas em 2 horas transformar a cabine de passageiros para carga e vice-versa. Portanto, isso é, para empresas de logística e para as grandes empresas que precisam de fazer chegar passageiros rapidamente a uma unidade industrial, está é uma alternativa para mobilidade rápida para zonas menos desenvolvidas, no ponto de vista das infraestruturas, como África e América do Sul”, descreveu Miguel Braga.
Questionado pelo que levou o CeiiA a escolher o Alentejo e a cidade de Évora, o diretor salientou que “o CEiiA e Évora têm uma relação muito próxima. Temos aqui um escritório no PACT há muito tempo, estivemos nos últimos anos a olhar justamente para o aparecimento de uma oportunidade para trazer para aqui um grande projeto. Quando fomos abordados pelos nossos parceiros brasileiros, olhámos imediatamente para Évora como o ponto onde queremos desenvolver a engenharia e a tecnologia associada á aeronave e é desde essa altura, portanto, estamos a falar há quase dois anos atrás, que viemos falar com a CCDR do Alentejo”
Miguel Braga enalteceu ainda que a CCDRA “teve uma postura excecional de defesa da região e foi muito pró-ativa na forma como desde logo abraçou o desafio, na forma como criou as condições para já estarmos cá, designadamente utilizando os mecanismos de financiamento dos Programas Operacionais, mas acima de tudo a emoção que também pôs neste projeto e é quase a terceira parte desta parceria – o CEiiA, a DESAER e o Alentejo, designadamente Évora. Portanto, era uma escolha óbvia, porque não só queríamos vir para Évora, mas porque Évora fez tudo para nos ter cá.
Relativamente aos 1.200 postos de trabalho que estão previstos ser criados, o diretor do CEiiA esclareceu que “o emprego qualificado que pretendemos criar não é só em Évora, onde está a fase de desenvolvimento do projeto, mas por mais locais do Alentejo, como Ponte de Sor, Grândola e como outras áreas da região”, frisando que “é inevitável que tem de vir gente de fora, mas esse é justamente o objetivo do projeto – é para atrair e qualificar para o Alentejo. Na área da aeronáutica, os perfis que trabalham neste setor, mais que o salário, têm normalmente uma preocupação com o projeto onde vão trabalhar, com o desafio profissional e tecnológico, com a forma como se vão valorizar profissionalmente por estarem num projeto. Esse é o principal fator da atração de recursos. E depois estes perfis têm outra característica relevante, que é a mobilidade. São engenheiros que estão habituados a, muito rapidamente, num mês trabalharem em Lisboa, noutro mês trabalharem no Porto, a seguir trabalharem em Hamburgo, porque a Airbus os desafiou para um projeto interessante, ou irem para o Brasil. A mobilidade já é em si uma característica deste tipo de profissionais e o facto de Évora ter uma qualidade de vida interessante e do facto de ter experiência em acolher profissionais, como aconteceu com as fábricas da EMBRAER, que têm sabido atrair e qualificar, os nossos engenheiros que vão trabalhar neste escritório vêm de todo o país, vêm compatriotas nossos do Brasil, que vão viver cá. Por isso há um efeito multiplicador inevitável com este projeto, o que nos engradece ainda mais”.
Sobre o investimento previsto, Miguel Braga afirmou que “o investimento que estimamos é de 164 milhões de dólares, feitos ao longo do programa e este investimento terá, como já está a ter nesta fase inicial, um financiamento ao nível dos instrumentos competitivos que os Programas Operacionais das diferentes regiões gerem, mas a grande fatia do investimento vai ser assegurada pelos parceiros, pela DESAER e pelo CEiiA, e numa segunda linha por investidores maioritariamente internacionais, com quem nós já andamos a falar quase desde que começámos a falar com a DESAER”.
“Nós e a DESAER, juntos, temos olhado para esses investidores, que estão em diferentes geografias, como por exemplo na Arábia Saudita, nos Emirados Árabes Unidos ou na China, e quando nós estivermos as coisas mais próximas de estar fechadas, teremos todo o gosto em partilhar essa informação. Até lá, o segredo é a alma do negócio”, disse.
O diretor da CEiiA esclareceu que neste momento têm 20 milhões de euros para a fase de desenvolvimento, “que é o que vai acontecer aqui. Nós queremos ter 50 engenheiros a trabalhar em permanência, dedicados em exclusivo ao desenvolvimento deste programa até ao final do ano de 2020, com os run-up´s normais de todo o desenvolvimento”, referiu
“Estamos a falar de engenharia, estamos a falar de desenvolvimento e estamos a olhar para a região. É inevitável olharmos para Beja, é ainda mais inevitável olharmos para Ponte de Sor, conhecemos muito bem o projeto que a Câmara Municipal de Ponte de Sor tem posto ao longos dos últimos anos a funcionar em redor do seu Aeródromo e portanto é natural que olhemos para essa geografia para situarmos uma fábrica, para situar uma linha de montagem final, porque essa linha tem que estar em cima de uma pista, quem tem que ter as condições técnicas para este tipo de aeronaves poderem se levantar, designadamente nos ensaios de voo”, explicou Miguel Braga.
O dirigente admitiu que Beja e Ponte de Sor “são as duas geografias que, olhando para as condições das pistas disponíveis nos dois concelhos, são alternativas óbvias”, mas voltou a frisar que “também aqui o segredo é a alma do negócio e os autarcas com quem estamos a falar sabem do que estamos a falar e estamos muito confiantes que vão ser os primeiros e os maiores apoiantes deste projeto no Alentejo”.
Já sobre a planificação do projeto, Miguel Braga explicou que “a nossa planificação prevê que o rollout do primeiro protótipo, e estamos a falar que o programa prevê quatro protótipos, aconteça no final de 2023. E evoluindo o desenvolvimento do programa, conforme estimamos hoje, estamos em condições de o conseguir teríamos no final de 2025, início de 2026 a primeira aeronave a sair daqui para o cliente final e para o mercado”. O diretor do CEiiA garantiu ainda que “temos vários clientes interessados, aliás, é justo assinalar que quando a DESAER fala connosco, traz já um trabalho de casa muito detalhado e preparado, no que diz respeito aos potenciais clientes, designadamente aos “clientes-âncora”, que puxam depois pelos outros”.
“É um privilégio ter um parceiro com a qualidade e o nível da DESAER do Brasil”, elogiou.