No Alentejo, em tempos idos, não havia poço ou fonte que não tivesse nas proximidades um cocho ou um cocharro, sempre pronto a matar a sede dos que por ali passavam. Estas singelas malgas de cortiça, feitas à mão, tornavam a água ainda mais refrescante, especialmente nos quentes verões alentejanos, oferecendo uma experiência única de pureza e frescura.
A criação destes objetos, muitas vezes moldados por pastores e vaqueiros durante as longas horas passadas a guardar os rebanhos, era uma arte que exigia sabedoria e paciência. Com uma simples navalha, a mesma que usavam para cortar o pão e a linguiça, os artesãos esculpiam a cortiça, transformando-a em cochos com a habilidade adquirida ao longo de gerações. A escolha da cortiça era crucial: apenas uma peça com um nó era adequada para dar origem a um cocho resistente e duradouro.
Apesar da modernidade e da chegada da água canalizada, muitos alentejanos continuam a preservar esta tradição, mantendo os cochos de cortiça pendurados junto às torneiras das suas casas. Para estes guardiões das memórias, beber água por um cocho de cortiça é um prazer indescritível, um ato que liga o presente ao passado, mantendo viva uma herança cultural rica e profunda.
Esta prática não é apenas um símbolo de identidade regional, mas também um testemunho da engenhosidade e resiliência dos alentejanos, que se recusam a deixar desaparecer as tradições que os definem. Que estas memórias e saberes continuem a ser passados de geração em geração, resistindo ao tempo e à mudança.