Fundada em 1944, por Manuel Joaquim Grave, a ganadaria Murteira Grave insurge-se, no mundo taurino, como uma das mais importantes do nosso país. Com a morte do fundador, a ganadaria passa em 1958 para o seu filho, Joaquim Manuel Murteira Grave e atualmente, desde 2002, pertence, por herança, ao neto do criador, Joaquim Manuel de Vasconcellos e Sá Grave.
A Murteira Grave iniciou-se com a compra de 25 vacas e um semental com o nome Fabeto de José Lacerda Pinto Barreiros com procedência direta de Gamero Cívico (Pardalé). Hoje em dia, e em suma, podemos dizer que a ganadaria é uma mistura pardaleña com base inicial da linha Gamero Cívico – Guardiola Soto e com aportações de sementais dos principais ramos de Pardalé.
Os exemplares desta ganadaria seguem um tipo de toiro sério, com uma postura elegante e comportamento bravo e encastado. Fisicamente, apresentam cornamentas acapachadas e generosas, e são, na sua maioria, de “capa negra”.
Joaquim Grave, a 3ª geração de criadores, pretende seguir as pisadas dos seus antecessores e manter a ética na tauromaquia e “ (…) dar o máximo de garantia ao público quando vê anunciados os toiros Murteira Grave, que mais não seja pela apresentação, porque a bravura é sempre um mistério”. Há ainda um esforço e um grande investimento na melhoria genética “(…) para que os toiros possam ter um comportamento que vá sempre evoluindo, eu nunca estou satisfeito”, afirmou Joaquim Grave em entrevista à Rádio Campanário.
Em três dias de faena a Murteira Grave conseguiu indultar dois toiros, contabilizando já cerca de 30 desde que está à frente da ganadaria, e questionado sobre a façanha Joaquim Grave confessou acreditar que os toiros com que lida atualmente “ (…) poderão ser melhores pais daqueles que eu lidei à cinco ou seis anos (…) e é no acreditar que a ultima geração pode ser sempre melhor (…) gosto de ficar sempre com um semental ou dois, todos os anos”. O objetivo do ganadeiro é por isso ficar sempre com um “filho”, para que a espécie possa continuar sempre a evoluir.
Para Joaquim Grave “bravura é entrega”, e é isso que procura nos seus toiros. O criador afirma que o toiro tem de acabar sempre a lide “vazio”, dando mais importância à investida do que à perseguição que o toiro faz ao cavalo. “ Além da entrega, ele tem de humilhar, (…) tem que durar até ao fim da lide”, são as características de um toiro, mais importantes para o afamado ganadeiro.
Questionado sobre o tratamento e integração de um toiro, que após uma lide regressa ao campo, Joaquim grave afirmou que a primeira coisa que fazem é tratar o animal ainda na praça, se for possível, através da administração de antibióticos. Já no campo todas as feridas são lavadas e tratadas, através de um tratamento intensivo, feito no máximo por duas vezes. Depois os toiros são alimentados com qualidade de excelência, e já no outono são introduzidos num lote de vacas. Posteriormente, “ espero a observação dos primeiros filhos nas tentas e se forem do meu agrado, é um toiro que tem garantida uma vida como reprodutor até à velhice”, afirma o ganadeiro.
Antes de iniciar uma lide, Joaquim Grave considera de extrema importância o tratamento que é dado ao toiro nas últimas 48 horas de antecedem a entrada na arena, desde que saem do campo até à chegada à praça. Este transporte deve ser feito de forma a que “ (…) o toiro não gaste toda a sua energia (…) o “combustível” inteiro têm de sair à praça intacto”.
Questionado sobre o novo regulamento tauromáquico, Joaquim Grave não se mostra de acordo, relativamente a algumas normas, apesar de ter feito parte da comissão que o elaborou. O ganadeiro explicou à nossa rádio que no antigo regulamento estava expresso que “(…) uma das funções do diretor de corrida é autorizar a volta a arena do artista ou do ganadeiro (…) quando solicitada pelo público” ora agora “ (…) a volta a arena não pode estar dependente da decisão se um sujeito, tem de ser o público”. O ganadeiro reclama que o que acontece hoje em dia é que o “ (…) os diretores de corrida levam os lenços e são eles, que sem qualquer manifestação do público, decidem se o artista ou ganadeiro dá a volta”.
Em Portugal, uma vez que não há lenços, a volta a arena “ (…) deveria ser em função da ovação do público que o diretor de corrida deveria decidir se dá ou não a volta (…) não está bem quanto a mim”, reclama.
Relativamente ao balanço da época taurina, que vai já a meio, “(…) quanto ao toiro diz respeito, estou convicto de que cada vez há mais toiros bravos a sair nas praças, e isso satisfaz-me”, afirma Joaquim Grave.
Na opinião do ganadeiro, Pablo Hermoso de Mendonça e Diego Ventura “ (…) são os melhores rejoneadores (…) mas não quer dizer que seja o rejoneio aquilo que eu prefiro, eu gosto de ver esses dois artistas, têm cavalos excelentemente bem adestrados, montam muito bem, sobretudo o Pablo Hermoso e têm uma capacidade de lidar os toiros completamente assombrosa”, afirma Joaquim Grave. Contudo, sublinha também que o que confere a estes artistas a fama e o dinheiro é o público espanhol e “ (…) veem a Portugal duas ou três vezes por ano a fazerem o que sabem fazer lá”.
Abordado, pela Rádio Campanário, com o facto de os dois artistas, já referidos, terem ou não capacidade de lidarem um toiro Murteira Grave, Joaquim Grave respondeu que eles “(…) provavelmente não conseguiriam fazer todos aqueles números que estão acostumados a fazer (…) mas como são bons executantes com certeza que dão volta aos toiros e teriam muitos êxitos a toirearem toiros meus”, conclui.
Joaquim Grave termina dizendo que “(…) a festa dos toiros é muitos ampla, não há só uma verdade, cabe lá o toiro murube, cabe lá o toiro Murteira Grave, cabem outros toiros, parte do encanto deste espetáculo é a variedade, é não haverem dois toiros iguais”.
No final da entrevista, Joaquim Grave, agradeceu à Rádio Campanário, e a toda a sua equipa, a dedicação e apoio que têm demonstrado para com a festa brava.