O processo de Consulta Pública sobre a decisão de inscrição dos “Saberes e Práticas Tradicionais de Construção do Cavaquinho“ no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial está aberto, segundo anúncio hoje publicado no Diário da República (DR).
A consulta pública tem a duração de 30 dias, define o anúncio, tendo a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) 120 dias para se pronunciar sobre a sua inscrição na lista nacional do Património Imaterial, etapa obrigatória antes da sua candidatura a património imaterial pela Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura (UNESCO).
O pequeno cordofone, da tradição popular minhota, deu a volta ao mundo ao longo dos séculos, deixando descendência no Brasil, em Cabo Verde, no Havai e na Indonésia.
Um das instituições que tem procurado investigar, inventariar, estudar e dar a conhecer quem constrói, quem compõe para este instrumento e quem o toca, atualmente, é a associação cultural Museu Cavaquinho, fundada pelo músico Júlio Pereira.
Em quase dez anos de existência, a associação cultural reuniu e disponibilizou ‘online’ informação sistematizada sobre este instrumento em Portugal e no mundo, fruto também de um protocolo com a DGPC, destinado a documentar os conhecimentos e as técnicas relativos à construção do cavaquinho.
“Toda a prática deste instrumento tem evoluído muito e andado muito depressa. (…) É incrível a crescente prática do cavaquinho“, afirmou Júlio Pereira à Lusa, no passado mês de maio, quando a associação editou um novo álbum, dedicado a este instrumento, “Cavaquinhos.pt”, pouco depois de submeter o pedido de registo dos “Saberes e práticas tradicionais de construção do cavaquinho” no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.
Júlio Pereira calculava que atualmente existam cerca de 300 grupos de cavaquinhos, o que significa entre 2.600 e 3.000 tocadores pelo país.
“Aquilo que eu não estava à espera foi uma crescente prática envolvendo construtores, músicos e estudiosos. (…) Chegámos a um número fantástico, se considerarmos o tamanho do nosso país e o panorama da construção de cordofones na Europa. É incrível que tenhamos mais de 40 construtores de cavaquinho“, exclamou então Júlio Pereira.
Na página da associação é possível também conhecer alguns dos cerca de 250 modelos de cavaquinhos minhotos, urbanos e braguinhas ou machetes existentes.
Em 2014, pouco depois de criar a associação Museu Cavaquinho, Júlio Pereira contava à agência Lusa que este era um projeto de vida, o de cartografar a identidade de um pequeno instrumento de cordas, popular, de tradição minhota e que deu a volta ao mundo ao longo dos séculos.
Em fevereiro último foi inscrita no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial a construção de bombos e caixas no concelho do Fundão, distrito de Castelo Branco.
Na lista nacional do Património Imaterial estão inscritas, entre outras manifestações, a capeia arraiana, uma tradição tauromáquica do concelho de Sabugal, no distrito de Castelo Branco, a kola San Jon, um evento que se realiza próximo do dia 24 de junho no Bairro do Alto da Cova da Moura, no concelho da Amadora, no distrito de Lisboa, as danças tradicionais da Lousa, no distrito de Castelo Branco, o processo de confeção de louça preta de Bisalhães, no distrito de Vila Real, e o barro figurado de Estremoz.
A lista nacional inclui as mais diversas manifestações como os conhecimentos tradicionais, de caráter etnobotânico e artesanal, utilizados no processo de produção de palitos, em Lorvão (Coimbra), as artes e saberes de construção e uso da bateira avieira no rio Tejo, em Caneiras (Santarém), as festas do povo em Campo Maior (Portalegre), danças, bailinhos e comédias do Carnaval da Ilha Terceira (Açores), e o culto a Nossa Senhora da Piedade, em Loulé.