Recentemente, a Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF) identificou 6 mil aldeias em perigo relevante de incêndio, estando a maior parte localizada no Norte do país. Contudo, Tiago Oliveira, presidente da Agência faz um balanço positivo dos últimos quatro anos de trabalho deste instituto público, dando inclusive como bom exemplo o Alentejo, devido à pastorícia.
Tiago Oliveira sublinha que, apesar de os resultados serem muito mobilizadores (Portugal reduziu para metade o número de incêndios), ainda há muito trabalho a fazer para preparar essas seis mil aldeias que estão mais expostas, e para quadruplicar a área anualmente gerida, que contribuirá para reduzir o perigo.
O processo, que envolve uma avaliação e análise do risco, é feito pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), que tem como missão prevenir e mitigar o risco, reduzindo a hipótese de perdas de vidas e danos. O presidente da AGIF explica que “a exposição ao perigo de incêndios destes lugares depende da continuidade da vegetação em seu redor (se são matos, floresta ou terrenos agrícolas de sequeiro ou regadio), se o lugar é cimeiro, meia encosta ou fundo de um vale e se está numa zona de recorrência histórica de incêndios”.
É com base “nesta informação e na cartografia de ocupação do solo e de interface urbano-rural que são identificados lugares com potencial de risco”. A partir daqui é preciso fazer a gestão da vegetação em redor, testar e desenhar esquemas de aviso à população e de evacuação das localidades. “Isso faz-se através dos programas Aldeia Segura, Pessoas Seguras e Condomínio de Aldeia”, afirma, sustentando que para levar a cabo estas tarefas é necessário “priorizar e programar a intervenção, começando naqueles lugares em que os incêndios são mais prováveis ou que podem ter consequências mais gravosas”.
Tiago Oliveira fala na necessidade de apostar na pastorícia e na gestão ativa das áreas florestais. De acordo com os dados do presidente da AGIF, as aldeias com as quais se deve trabalhar estão espalhadas por todo o território, mas é sabido que o perigo de incêndio está mais presente, ou é mais elevado, a norte.
Dá o exemplo do Alentejo para explicar que, apesar de nesta região haver “mais dias com condições meteorológicas muito favoráveis à ocorrência e à propagação do fogo, a paisagem tem uma gestão mais ativa, o que lhe reduz em muito a probabilidade de ter problemas sérios com os incêndios, e a pastorícia é um ator relevante para este sucesso”. Por isso defende o aumento da pastorícia no Norte, valorizando “a carne e o queijo de borrego e cabrito em regime extensivo e pastagens naturais”. “Portugal é importador de leite de ovelha para o queijo da serra e para peles da indústria de sapatos! Para além do efeito do mercado, o PEPAC [programa de apoio à agricultura] pode majorar os apoios para o gado miúdo [ovelhas e cabras], reduzindo as ajudas aos vitelos em regime intensivo no Alentejo, que estão a destruir o renovo do montado e a criar outros problemas ambientais”, sublinha.
Via Jornal Público