Os agricultores estão a desfazer-se mais cedo dos efetivos de gado bovino devido a uma “tempestade perfeita” de acontecimentos agravada pela seca, disse hoje o presidente da Associação de Jovens Agricultores do Sul (AJASul), Diogo Vasconcelos.
“Temos aquilo a que eu chamo a tempestade perfeita. Não há comida, a que há é muito cara e o tempo não está a ajudar”, pelo que os agricultores estão “a desfazer-se dos seus efetivos em alturas que não seria normal isso acontecer”, disse à agência Lusa o dirigente associativo.
Lembrando que “estão 25 graus [centígrados] em Évora”, onde se localiza a sede da AJASul, Diogo Vasconcelos argumentou que “não há pastagem”, devido à seca, e “a alimentação animal está caríssima”.
Além disso, “os preços têm vindo a aumentar devido à inflação, ao preço do petróleo e à falta de cereais nos mercados mundiais”, acrescentou.
Por isso, os animais chegam “cada vez mais jovens” aos leilões da AJASul, que se realizam quinzenalmente em Évora, uma vez que os agricultores “vendem-nos assim que conseguem, porque já não conseguem aguentá-los em casa”.
“Estamos a vender animais com 20 a 30 quilos ou 50 abaixo do normal. Esses 50 quilos seriam, normalmente, adquiridos com recurso à pastagem”, disse.
Mas, como esta não existe, para o gado ganhar esse peso tem de ser com “alimentação dada à mão, comprada”, o que não é possível fazer neste momento, porque as tesourarias estão a ficar ‘apertadas’, explicou o dirigente associativo.
As dificuldades de tesouraria são, aliás, o principal motivo pelo qual os animais estão a ser vendidos mais cedo do que o habitual.
“Nós aguentávamos os animais, se calhar, seis, sete ou oito meses”, mas, agora, “estamos a aguentar menos um mês ou dois e a vendê-los com menos peso e mais cedo para criar tesouraria”, exemplificou.
Com esta venda antecipada do gado, além de já não receberem o subsídio das vacas aleitantes, “que é uma ajuda importante”, porque estão a desfazer-se dos animais durante o período de retenção, entre janeiro e maio, os produtores pecuários vão ter outros problemas, mesmo que termine o período de seca.
“Para o ano vamos ter menos vitelos. Se nós temos 200 vacas, vendemos 50, ficamos com 150, para o ano temos menos 50 vitelos à venda. E por aí fora. Isto é uma ‘pescadinha de rabo na boca’. Vai haver uma menor oferta, menos animais à venda, o mercado vai baixar e vamos ter menos entrada de capital”, apontou.
É que mesmo que o preço do gado aumente devido à redução da oferta, essa subida “não compensa de maneira nenhuma” o prejuízo resultante do número de animais que são vendidos a menos.
Além disso, haverá “menos produção” porque “os animais só se reproduzem se estiverem em boas condições corporais”, indicou.
“Não se reproduzem estando magros, fracos, debilitados. Historicamente, a seguir a uma seca, há menos partos porque os animais têm mais dificuldade para fazer o seu ciclo normal reprodutivo”, lamentou Diogo Vasconcelos.
Sobre os apoios aos agricultores que venham a chegar de Bruxelas, o dirigente associativo e também agricultor afirmou que “claramente não vão ser suficientes”.