À margem de uma entrevista sobre as medidas restritivas decretadas pelo Governo para a agricultura, a Rádio Campanário questionou Francisco Palma, presidente da Associação do Baixo Alentejo (ABBA), sobre as condições com que muitos imigrantes se deparam quando vêm trabalhar para Portugal, nos campos agrícolas.
A temática da exploração de imigrantes no Alentejo não é nova e basta recuar apenas um ano atrás para observar que, em abril e em maio de 2021, o Ministério Público tinha em curso 11 inquéritos sobre auxílio à imigração ilegal. Sobre esta temática, Francisco Palma começa por afirmar que “más práticas e situações más existem no país todo e, obviamente, no Alentejo, também não há-de ser excepção” e vai mais longe ao afirmar que aos imigração não existe só no alentejo, mas também nos meios urbanos e nas grandes cidades como Lisboa ou Porto.
Francisco Palma vê uma dualidade de critérios no ‘apontar’ o dedo às condições de trabalho dos imigrantes nos campos agrícola, pois afirma que “aos estafetas que entregam a comida em casa, seja da Bolt ou seja da Uber (plataformas eletrónicas de distribuição de comida) que são, normalmente, asiáticos, não lhes pergunta como é que vivem e como é que sobrevivem” e defende que a atividade agrícola precisa destas pessoas para trabalhar porque “não há disponibilidade de mão de obra nacional” para executar determinadas tarefas.
Na origem do problema, Palma considera que está um “problema estrutural” que passa pela ausência de regulação de fluxos migratórios por parte do Estado. Os fluxos migratórios são, na opinião do presidente da AABA, “feitos de qualquer maneira, sem qualquer plano, sem qualquer estratégia“. Para exemplificar, explica que a maior comunidade de imigrantes em Portugal é de Nepaleses e, por isso, estranha que o nosso país não tenha uma representação diplomática neste país asiático e questiona “como é que nós podemos entender ou como é que conseguimos integrar estes migrantes na nossa comunidade se nem sequer temos um elo de ligação ao país deles para saber em que condições vem, quais são as suas expectativas ou quais são os objetivos para virem para Portugal“. “Os nossos governantes assacam as culpas para os privados, mas no fundo o Estado não faz o seu papel de regulação, de fiscalização e de prevenção para que problemas com a imigração não aconteçam“, conclui.