Segundo o relatório da comissão de inquérito da Ordem dos Médicos (OM) para avaliar as circunstâncias clínicas do surto de COVID-19 no lar de Reguengos de Monsaraz, a que a Lusa teve acesso, este não cumpria as orientações da DGS. A comissão da OM aponta responsabilidades à administração, mas faz também críticas à Autoridade de Saúde Pública e à Administração Regional de Saúde (ARS).
No entanto, a Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo argumentou hoje que agiu no surto de COVID-19 no lar em Reguengos de Monsaraz baseada em critérios técnicos da autoridade de saúde, dos cuidados primários e do hospital de Évora.
“As decisões” da ARS do Alentejo foram “com base em critérios puramente técnicos”, disse à Lusa o presidente deste organismo, José Robalo.
E esta “parte técnica não tem a ver com a ARS. Tem a ver com os cuidados de saúde primários, tem a ver com o hospital de Évora [Hospital do Espírito Santo de Évora – HESE], tem a ver com a Autoridade de Saúde, que é dependente da Direção-Geral da Saúde”, vincou.
O responsável da ARS Alentejo falava à Lusa numa primeira reação ao relatório da comissão de inquérito da Ordem dos Médicos para avaliar as circunstâncias clínicas do surto de no lar da Fundação Maria Inácia Vogado Silva Perdigão (FMIVSP), em Reguengos de Monsaraz, que alastrou à comunidade.
O presidente da ARS Alentejo disse ainda não conhecer o relatório, nem ter sido ouvido no processo de auditoria.
“Ninguém me chamou para ser ouvido relativamente a isto. Se vão fazer apreciações, essas apreciações devem incluir no relatório a informação dos visados. Não sei se falaram com todos os profissionais, com o Agrupamento dos Centros de Saúde (ACES) do Alentejo Central, com o HESE”, mas “com a ARS não falaram, isso tenho a certeza”, lamentou.
Afiançando que, “assim” que receber o relatório, a ARS irá “esclarecer, ponto por ponto, todas as preocupações demonstradas pela OM”, José Robalo, questionado pela Lusa, disse, contudo, rejeitar já as críticas: “Claro que sim”.
”A única coisa que a ARS fez foi permitir disponibilizar, quer recursos humanos, quer materiais em função daquilo que foi estipulado pelas pessoas que estavam à frente do processo de avaliação”, ou seja, a Autoridade de Saúde, o HESE, e o ACES Alentejo Central.
“A única interferência que houve da parte da ARS foi dando resposta àquilo que os pareceres técnicos” definiam, “disponibilizando todo o material possível para que os utentes tivessem o melhor acompanhamento”, insistiu.
No relatório, que já foi enviado ao Ministério Público, Ministério da Saúde, DGS e à Ordem dos Advogados, a Ordem dos Médicos alega, entre outros aspetos, que foram criadas todas as condições para a “rápida disseminação” do vírus, “com responsabilidades para quem geria o espaço, o processo de rastreio epidemiológico e a aplicação das normas da DGS”.
A comissão de inquérito conclui pela “desorganização e consequente prejuízo para os doentes, atribuível à Autoridade de Saúde e à ARS do Alentejo”, dizendo que “o processo de governança clínica” falhou.
Reconhece ainda que a instituição melhorou as condições para os utentes, mas “a falta de coordenação e gestão continua a impedir que os doentes, os profissionais e os voluntários estejam em ambiente seguro”, responsabilidade que atribui à ARS e à autoridade de saúde.
O surto no lar provocou um total 162 casos de infeção, incluindo 18 mortos: 16 utentes, uma funcionária do lar e um homem da comunidade. No lar, foram contaminados 80 utentes e 26 profissionais, mas a doença alastrou-se à comunidade e infetou outras 56 pessoas.