Decorreu ontem, no Jardim Municipal de Estremoz, o Mercado do Lago. Numa organização da Câmara Municipal de Estremoz, a iniciativa tem como objetivo dinamizar a zona envolvente ao Lago do Gadanha, através da realização de um Mercado de Artesanato Urbano, onde estará patente a originalidade e a criatividade dos artesãos, criadores de peças alternativas ao artesanato tradicional.
A Rádio Campanário esteve presente e falou com António Santos, de Vila Viçosa um dos artesãos, que é participante assíduo deste evento. Referiu à nossa reportagem que os trabalhos em cortiça são a sua terceira arte: a primeira foi a construção civil, função que desempenhou durante 47 anos, a segunda foi a pintura onde ganhou vários prémios.
António santos contou-nos que “quando era construtor civil já pintava e aos 20 anos fiz uma escultura de um santo, a quem pus o nome de santo trabalho e um calvário de Jerusalém, com 500 figuras.”
Segundo nos contou António Santos, o trabalho com cortiça é o que “representa melhor o Alentejo, e, principalmente a esta nossa zona, porque ela é predominante aqui”. Para além da cortiça também destacou a importância do mármore na região.
Relativamente ao tipo de trabalho que faz na cortiça, o senhor Santos revelou-nos que “em cortiça não há quem faça este trabalho, há quem faça outros trabalhos artísticos, mas não é nada disto”.
Questionado sobre onde se inspira para as suas criações em cortiça, António Santos diz “o que me inspira é olhar para uma peça, ver um livro antigo e vou e faço”, acrescentando que “vejo só uma vez e começo a executar o trabalho com as “mãozinhas” e uma navalha e mais nada”.
Sobre qual foi a peça mais complexa que fez, o senhor Santos disse-nos que ” foi o convento das Chagas de Vila Viçosa, com uma procissão da Senhora da Boa Morte e com o Rei João IV e a Rainha a acompanhar”, acrescentando ” foi a que me deu mais trabalho, levei à volta de 6 meses”, para que estivesse concluída, revelando que não estava arrependido de a ter feito e de ter tido tanto trabalho.
Sobre os projetos futuros, o calipolense está a criar “um trabalho que é a Igreja de São Jerónimo, na Tapada, com o Rei Dom Carlos e os seus amigos a irem para uma caçada e a Rainha e a Pajem na varanda da igreja, a verem o Rei.”
Para além de figuras da história de Portugal e da história de Vila Viçosa, este artesão também homenageia o cante alentejano nas suas peças, e diz que “eu comecei a fazê-lo e as pessoas têm aderido muito, muito bem. Hoje já vendi que mais de 10 cantes alentejanos”.
O senhor Santos afirmou-nos que “desde o Ministro da Cultura, de há uns 10 anos atrás, ao Sousa Cintra, ao Miguel Sousa Tavares, todos têm trabalhos meus.”
Para finalizar, António Santos mostrou-se triste por não se sentir acarinhado e apoiado em Vila Viçosa, como é noutros municípios onde vende as suas criações, “infelizmente os da Terra são enteados e os de fora é que são os filhos, nós vimos para fora e cá fora sentimo-nos bem somos acarinhados e apoiados.”