A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) monitoriza 75 reservatórios de água em Portugal e, com base nos dados mais recentes da semana passada, verificou-se que a maioria deles (40) estavam com uma capacidade entre 81% e 100%. No entanto, três albufeiras destacam-se por estarem com menos de 20% de água: a barragem de Bravura, no concelho de Lagos, apresenta 12% de capacidade; Campilhas, em Santiago do Cacém, regista 10%; e a situação mais crítica é a da barragem do Monte da Rocha, com apenas 9% de água.
A barragem do Monte da Rocha foi originalmente construída para abastecer água potável e para a rega de cultivos. No entanto, neste ano, não foi possível fornecer água para rega devido ao baixo nível de armazenamento, ficando restrita ao fornecimento às comunidades dos concelhos de Castro Verde, Ourique, Almodôvar, Mértola e Odemira, que somam mais de 50 mil habitantes.
Em fevereiro deste ano, foi lançado um concurso para a realização de obras que possibilitariam o fornecimento de água do Alqueva ao Monte da Rocha, com previsão para ser concluído em 2025. No entanto, Manuel Caetano, proprietário do Restaurante a Rocha, localizado em frente à barragem há 42 anos, não tem muita confiança nessa solução.
Manuel Caetano é um observador atento da barragem e afirma que a última vez que a viu cheia foi em 2013, desde então tem sido um declínio constante. Ele relembra que a barragem já foi um grande reservatório de água trazida pelo rio Sado para abastecer a região e fornecer água para os cinco concelhos, mas agora tem apenas pequenos lagos no centro. Antigamente, o local era propício para atividades náuticas e até mesmo para um parque de campismo que hoje já não existe. A aldeia de Chada Velha, que costumava ficar rodeada de água quando a barragem estava cheia, também já não é a mesma.
Apesar disso, Manuel Caetano acredita que haverá água nos próximos anos, com base na sua observação ao longo do tempo. Esta perspetiva é compartilhada por Ilídio Martins, presidente da Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado. Ilídio afirma que a associação, responsável pela gestão da barragem, tem reservas para mais um ano, mas espera que as chuvas possam aumentar esse volume no próximo inverno.
Atualmente, o aspeto da barragem do Monte da Rocha é preocupante, com o crescimento de ervas secas nas suas paredes e leito, onde a água costumava estar. O local tornou-se quase irreconhecível em relação ao seu passado como um destino turístico movimentado, com estradas cheias de veículos a caminho do Algarve e o restaurante de Manuel Caetano sempre cheio de clientes.
Adílio Guerreiro, agricultor e funcionário da Câmara de Ourique, recorda-se do tempo em que a barragem estava cheia e lamenta a atual situação, chamando-a de “azar da natureza”. A falta de água afeta diretamente os 450 membros da Associação de Regantes, que não podem irrigar as suas terras. A situação é especialmente grave em Ourique e em parte de Santiago do Cacém.
A Associação de Regantes gere cinco albufeiras, incluindo Campilhas e Monte da Rocha, duas das três que estão em níveis críticos. A barragem de Campilhas encheu pela última vez em 2013, e a água disponível atualmente destina-se apenas à irrigação de emergência e para o fornecimento de água aos animais. Para resolver esta situação, é necessário depender das chuvas.
No caso do Monte da Rocha, Ilídio Martins afirma que a barragem possui apenas 9,5 milhões de metros cúbicos de água e que neste ano não foi possível abri-la para fins agrícolas. No entanto, um concurso público está em andamento para a realização de obras que permitirão o abastecimento de água proveniente do Alqueva nos próximos dois anos, trazendo uma solução para esse “azar da natureza”.
Fonte: País ao minuto