Considerada em risco de extinção, a produção de vinho da talha tem resistido no Alentejo. A técnica herdada dos romanos caracteriza-se pela simplicidade de processos.
Fazer vinho é uma tradição ancestral e que, há muitos anos, teve nas talhas, a sua técnica mais primária.
Mas para que tenha inicio o processo de vinificação, existe o processo de preparação das talhas, conhecido como a “pisga”.
Foi esse processo que a Sovibor, Sociedade de Vinhos de Borba, desencadeou para se iniciar na produção de vinho em talha.
Uma vez que a talha é um pote de barro, a sua estrutura é porosa pelo que se impõe a impermeabilização do seu interior. O modo ancestral de fazer essa impermeabilização, e que ainda hoje resiste, passa por untar o interior da talha com resina de pinheiro, denominada de pez louro, à qual se pode adicionar alguns outros produtos naturais conforme a receita do pesgador, profissão hoje praticamente extinta.
A pesgagem das talhas, ou seja, o revestir o seu interior com pez louro, é sempre uma operação que implica o trabalho de várias pessoas e dura uma grande parte do dia, pelo que, sendo muito rara nos dias que correm, é vista como um acontecimento a merecer celebração.
A Rádio Campanário esteve presente na adega Sovibor, em Borba, para acompanhar a pesgagem das talhas e falou com o diretor da empresa, Luís Sequeira que declarou a esta Estação Emissora que a empresa está a “recuperar a forma de vinificar o vinho, o vinho de talha e hoje é o dia em que estamos a preparar mais de 20 talhas, o chamado pisgar as talhas que mais não é do que preparar um revestimento feito com resina e com cera de abelha, para em setembro, quando recebermos uvas, estarem preparadas para vinificar, fazer o vinho de talha, que é um vinho que cada vez mais está a ser procurado com interesse comercial”.
Questionado sobre as diferenças que existem entre um processo e outro, Luís Sequeira expressa que o vinho em talha é “muito característico em termos de vinificação, são técnicas muito antigas que nada têm a ver com as que se utilizam hoje em dia e o sabor é muito característico e por isso mesmo, um vinho diferente e na diferença, julgo que, nos mercados externos nos poderemos afirmar e o vinho de talha é um vinho com muita tipicidade e é uma tradição com centenas de anos no Alentejo”.
O diretor refere ainda que a produção terá início este ano com “uma quantidade reduzida” com o objetivo de “testar, ver o resultado final e a ideia é irmos crescendo e fazer vinho para o mercado nacional e para o mercado externo”.
Joaquim Tavares, oleiro e pesgador em declarações à Rádio Campanário contou como se desenrola este processo centenário dizendo que “este processo consiste em fazer a impermeabilização das peças, pisgar as peças, aplicar cera e pez, ou as duas coisas misturadas para depois ser feito vinho nessas talhas”.
Joaquim Tavares salienta que “é um processo muito complexo em que as peças têm que ser bastante aquecidas de maneira que não se consiga meter a mão em cima da peça. Têm que ser viradas com a boca para baixo e são peças gigantescas”.
Acrescenta que, aplicado o processo, depois de arrefecida, a peça está pronta a ser usada e o produto utilizado “não tem prazo de validade e vai dar um sabor especial ao vinho”.
O presidente da Câmara Municipal de Borba, António Anselmo, referiu que em Borba, houve sempre a tradição de se fazer vinho em talha, mas “não tinha conhecimento do processo em si e aquilo que vi hoje e sobretudo num dia muito quente, fiquei extremamente sensibilizado porque primeiro se faz e depois porque é uma empresa nova numa que já existe há muitos anos, que é a Sovibor e que está com uma capacidade muito grande de investimento e de relacionamento de empresa que já existe e depois com uma empresa que vem para Borba e que mantem a empresa e permite criar postos de trabalho, naturalmente que é um orgulho”.