Os capotes alentejanos são ícone por todo o Alentejo e possuem uma história com muitos anos. O traje teve origem nos pastores e apresenta-se como comprido, sem mangas e uma sobrecapa que cai até à altura do peito, podendo possuir uma gola em pele de raposa. Esta peça tradicionalmente portuguesa, vestia também reis e presidentes, embora tenha uma humilde origem pobre.
Hoje em dia, é uma moda que adquiriu um novo estatuto social. Ultrapassou identidades regionais, ganhou urbanidade e apesar de historicamente destinada a homens, é agora também servida a mulheres.
No coração da cidade de Évora está localizada a loja “Capotes” que a Rádio Campanário foi conhecer. Se outrora era usado por homens, a marca começou pelo contrário. A gerente, Delfina Marques, que trabalha há sete anos no estabelecimento, contou como surgiu a ideia “começamos com o capote feminino, quando a marca iniciou. Lançamos apenas um capote feminino porque foi essa a imagem distintiva. Era colorido e pelo joelho, mais leve”.
Contudo, Delfina confessa que “com o passar do tempo fomos alargando as coleções a peças masculinas. Hoje em dia temos homens e mulheres” adiantando que o público alvo é “sobretudo feminino entre os 25 e 60 anos”.
Este emblemático traje alentejano é servido particularmente nas alturas em que o frio se faz sentir, o que leva a uma maior adesão das peças, essencialmente no Inverno, “entre setembro e março é a nossa época alta”.
A responsável pela loja contou que antigamente o capote tinha um “cunho distintivo de classe social” pois “os pastores usavam capote castanho com uma gola castanha de borrego e o dono das terras usava um capote preto com gola de raposa. Entrava um bocado de distinção social”, confessa Delfina.
Apesar de no passado ser utilizado maioritariamente como agasalho de campo de homens, Delfina afirma que atualmente todos os tipos de capotes têm muita saída “começamos pelo capote colorido e curto pelo joelho, mas neste momento saem todos. Os tradicionais e os mais coloridos e inovadores”.
Na loja, há uma sala onde estão trabalhadores a produzir constantemente este artigo e a gerente garante que já estão a pensar na próxima coleção “quando terminarmos, no final de março a época alta, vamos começar já a fazer a próxima coleção e aí trabalhamos mais em série, ou seja, fazemos capotes, a seguir samarras e capas. É muito mais rápido trabalhar assim”, acrescentando que “nesta altura do ano trabalhamos muito por encomenda e peças personalizadas, por medida é mais demorado”.
Relativamente ao episódio que se sucedeu em novembro do ano passado sobre uma carta de um engenheiro de Penafiel que reclamava os direitos exclusivos à imagem dos capotes e samarras, Delfina confessa que achou “um perfeito disparate” e que “a Direção Regional de Cultura do Alentejo tentou o pedido de anulação dos registos e estamos a aguardar porque obviamente não faz qualquer sentido”.
Assim como tantos outros negócios, com a pandemia, com esta marca não foi diferente “sentimos diferença. Sentimos um saldo negativo nas vendas, mas felizmente este ano já recuperámos”.
Ainda assim, as consequências fizeram-se sentir com a proibição de vendas “parece que isto já foi há tanto tempo que começou. Fechamos em 2020 de março a junho creio, e o ano passado fechamos de fevereiro a abril. Foi na altura do confinamento”.
Porém, com o regresso à normalidade “este ano já voltamos um bocado àquilo que é normal, ainda não totalmente, mas foi um inverno mais normal”, assume a gerente.