Numa grande entrevista à Rádio Campanário, Carlos Pinto de Sá falou sobre a atual situação politica em Portugal, enquanto autarca, cidadão e economista.
O presidente da Câmara Municipal de Évora, “uma câmara emblemática do que foi a construção do poder local democrático depois do 25 de abril”, espera que um novo Governo faça uma rutura com a política de quatro anos que vinha sendo aplicada de tutelar o poder local e de o aniquilar, e que permita a retoma dessa autonomia e a reconstrução do poder local democrático.
O autarca começou por referir que tem “expetativa que o novo Governo possa remover a situação e reencaminhar o poder local democrático para que possa continuar a ser expressão da vontade de cada uma das populações, e Évora espera muito dessa alteração e é nesta perspetiva que daremos o nosso contributo defendendo propostas nesse sentido”.
Já na qualidade de cidadão, Carlos Pinto de Sá, considera que o PSD e o CDS não ganharam as eleições, justificando o seu ponto de vista com o facto de “há quatro anos terem uma maioria absoluta, 50% dos votos juntos e nesta eleição esta coligação perdeu mais de 700 mil votos, 25 deputados, e perdeu a maioria absoluta na Assembleia da República, e portanto claramente o povo português disse que não queria ser governado naquelas condições”.
Carlos Pinto de Sá diz ainda que “as eleições em Portugal não são um jogo de futebol em que quem marca um golo é que ganha a partida, estão-se a eleger 230 deputados”, acusando “um conjunto de comentadores, que há mais de três décadas, e a ideologia particular de direita, e em muitos casos acompanhada pelo Partido Socialista, de passar a ideia de que não se elegia deputados, mas o Primeiro-ministro, e nestas eleições voltou a acontecer”.
Carlos Pinto de Sá faz ainda referência às penúltimas eleições, dizendo, “o Partido Social Democrata e o CDS não se apresentaram como coligação, apresentaram-se em separado e fizeram uma coligação depois, é tão legítima uma maioria como outra, desde que os deputados eleitos pelo povo entendam aceitar um programa que permita uma base parlamentar ao Governo”, entendendo, “é nesta perspetiva que se faça uma alteração, uma rutura com aquilo que estava estabelecido, e nessa medida há de facto uma alteração significativa, a meu ver positiva”.
Quando questionado sobre o Partido Comunista não integrar este Governo, Carlos Pinto de Sá declarou que “a questão que foi sempre colocada como essencial, não são as pessoas, mas as políticas”, realçando que há duas questões essenciais, “derrotar o Governo PSD/CDS para interromper essa política de destruição do país e romper com a política de direita, e para além disso há a necessidade de apontar caminhos para uma política de esquerda”.
“Não foi a primeira vez ao longo destes 30 anos que o PCP mostrou disponibilidade em apoiar um Governo do Partido socialista, noutras ocasiões o PS recusou sempre”, assinalou.
Nesta grande entrevista Carlos Pinto de Sá enumera os vários Governos que na sua opinião contribuíram para a dívida pública, referindo “o Governo do professor Cavaco Silva quando aceitou e aplicou no Alentejo a medida de pagar para não produzir e os Governos de Guterres e de Sócrates que também contribuíram”.
Questionado sobre se a abertura do PCP em integrar esta coligação se deveu ao facto do Partido Comunista ter sido ultrapassado nas Legislativas de 4 de outubro pelo Bloco de Esquerda, Carlos Pinto de Sá, refere, “o Partido Comunista não faz um campeonato de futebol” com esta força política, “definimos os nossos objetivos eleitorais democraticamente, derrotar o Governo de direita PSD/CDS, a CDU ter mais votos, mais deputados, e os objetivos foram atingidos nestas eleições, mas gostaríamos de ter ido mais longe”.
Quanto ao acordo com o Partido Socialista, “o que foi falado é que se consiga medidas que sirvam o povo português, os trabalhadores, melhorar o rendimento e tirar Portugal do abismo e da situação social em que tem vindo a cair e desse ponto de vista há uma coisa que toda a gente sabe, palavra de PCP não é alterada, nem precisa estar escrita, o que dizemos é aquilo que fazemos”.
Relativamente à renegociação da dívida, Carlos Pinto de Sá assinala que o PCP já havia dito que “não poria em causa o que o PS colocou em cima da mesa e enquanto cidadão e economista o que digo é que a situação da dívida é algo que não pode ser ignorado, o que significa hoje cerca de 130% do Produto Interno Bruto (PIB) e pode crescer nos próximos anos para quase 5 mil milhões de euros e o Governo da próxima legislatura vai ter que olhar para a questão da dívida pública, dos encargos dessa dívida e procurar uma gestão que permita reduzir os encargos para dar espaço a alavancar a economia portuguesa”.