A centenária “Casa Ramalho”, uma das mais emblemáticas lojas de Vila Viçosa, encerrou as suas portas em 2021, devido a dificuldades económicas, que foram agravadas com a pandemia. A Rádio Campanário falou com José Ramalho, o último proprietário deste espaço, conhecido um pouco por todo o Alentejo.
José Ramalho começou por referir-nos “encerrei-a em janeiro de 2021, foi quando a segunda fase da pandemia começou,” porque “a casa já não estava a ter viabilidade”.
A “casa Ramalho” tinha o seu cliente fidelizado por ser a única na região com estas características, onde se podiam encontrar deste tecidos a linhas, entre outras coisas.
José Ramalho apontou como um dos principais problemas grandes superfícies comerciais que abalaram as suas vendas. “Muitos clientes habituais continuaram a ir, mas outros abalaram para outros meios”, destacando que “Vila Viçosa está um bocado em baixo de população e foram para outros meios comprar.”
Com a construção do El Faro “muita gente deslocou, e desde essa altura que desceu bastante. Eu praticamente agora estava com um quarto de vendas do que antes do El Faro abrir, portanto, já não estava a ter muita viabilidade.”
Questionado sobre se foi difícil deixar um negócio de família que passou por várias gerações, José Ramalho referiu “é difícil. O meu pai, sozinho, estava ali desde 1968, antes disso teve sociedade com o senhor Caeiro, que foi quem fez a inauguração do estabelecimento em 1913. O meu pai depois em 1959 ficou sozinho, e eu estava ali desde que o meu pai faleceu em 1985.”
José destacou ainda que a emblemática “casa quando fechou tinha cento e treze/catorze anos.”
José Ramalho confessou que nunca procurou ajuda para continuar a financiar o seu negócio. “Nunca cheguei a ter contactos com ninguém, sempre pensei que as coisas melhorassem e quando dei por mim já estava mesmo mal, já não havia hipótese.”
A pandemia veio agravar bastante este negócio. Caso não tive existido a pandemia “conseguia-se manter, não tendo tantos artigos como tinha, mas conseguia, mas com a pandemia foi o fim,” destacou José.
Sobre o fazer um upgrade no espaço, com obras de remodelação para atrair mais clientes, José confessou que “se houvesse hipóteses de fazer uma remodelação na loja podia melhorar, mas financeiramente estava a ser impossível.”
José Ramalho destacou que “o meu pai em 1975 remodelou a loja, aumentou-se o negócio, mas agora de momento não tinha hipóteses de fazer outra remodelação.”
Questionado se pensava retomar esta atividade, o comerciante frisou, “não sabemos o dia de amanhã, mas penso que já não. Ainda pensei montar um negócio um pouco mais pequeno de retrosaria, mas de momento está a ser difícil.”
Esta “retrosaria era um marco e em Vila Viçosa não há nada da retrosaria, linhas botões e isso, é difícil de se encontrar.”
Em conclusão José Ramalho destacou que neste espaço as pessoas “sabiam que encontravam e vinham de fora e tudo,” dando como exemplo “Estremoz, Redondo, Borba Alandroal, vinha muita gente dos arredores ali, até de Elvas e tudo, que sabiam que eu tinha tecidos e isso tudo e vinham ver, mas pronto, é a vida.”