O Mexilhão-zebra é considerada uma das espécies exóticas invasoras mais prejudiciais do planeta. É um pequeno molusco bivalve de água doce ou salobra, do tamanho de uma moeda de 5 cêntimos, originário dos mares Negro e Cáspio e presente em Espanha desde 2001. Atualmente já se encontra em 3 bacias hidrográficas espanholas: Ebro, Júcar e Guadalquivir.
Consciente desta ameaça, a EDIA adquiriu duas estações de desinfeção de embarcações, ao abrigo do programa Life Invasep, que põe à disposição dos utilizadores das albufeiras de Alqueva de forma gratuita.
Neste sentido a Rádio Campanário falou com David Catita, Técnico Dep. Ambiente na EDIA – Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva, S.A., que começa por nos explicar que “esta espécie é considerada o invasor mais problemático do mundo”, acrescentando que “invade todas as estruturas em que existe circulação de água, nomeadamente estruturas de irrigação, centrais hidroelétricas, centrais nucleares, barragens, canais, tubagens, etc”.
Questionado pela RC sobre qual o impacto desta espécie nas infraestruturas, David Catita adianta-nos que “em termos de impacto todas estas estruturas podem ser gravemente afetadas, porque é uma espécie que tem uma grande capacidade de fixação cumulativa, ou seja temos uma primeira camada que se agarra na parede, depois outra que se agarra na primeira e assim sucessivamente até que conseguem colmatar na totalidade as tubagens”.
David Catita explica ainda que “por ser uma espécie que não necessita de luz acaba por conseguir sobreviver dentro das condutas”, acrescentando que “a prevenção assume grande importância, pois estamos a falar de uma espécie microscópica durante a fase larvar que acaba por circular livremente pela massa de água”.
No caso desta espécie invadir as águas de Alqueva “podemos estar a falar no colapso das estruturas de regadio, com um custo económico gigantesco, temos o exemplo de Espanha onde até ao momento esta praga já custou ao estado 1600 milhões de euros”, uma vez que “a maior parte das vezes a solução é desenterrar condutas e colocar novas tubagens”
“Podemos estar a falar no colapso de todas as estruturas de regadio”
David Catita
Relativamente ao impacto ambiental, David Catita, explica que “é uma espécie filtradora, basicamente filtra a água e alimenta-se de tudo o que lá existe e aliada à sua capacidade de fixação podem alojar-se nas guelras dos peixes, nas conchas de bivalves nativos, impedindo que estes se movimentem e acabando por lhes provocar a morte”. Para além disso o técnico refere ainda que “tornam a água com menos capacidade nutritiva, basicamente afeta quase de uma ponta a outra toda a cadeia trófica”.
A RC procurou saber que medidas estão a ser tomadas para prevenir uma invasão desta espécie, ao que David Catita refere “a EDIA faz cinco anos que tem apresentado medidas de monitorização e controlo”.
De entre essas medidas o técnico destaca “ duas estações móveis de desinfeção e controlo, que andam permanentemente atrás de eventos como as competições de pesca, para que se possam desinfetar os barcos antes de entrar na água”; “temos placas nas principais entradas da albufeira alertando para a importância de as pessoas desinfetarem as suas embarcações”; “estamos em permanente análise em 18 pontos do empreendimento de Alqueva, para ver se aparece genoma da espécie”; “temos um sistema de cordas (sistema já utilizado em Espanha) que caso se verifique a entrada da espécie iremos identifica-la através da fixação nas cordas”.
No entanto, apesar de todas estas medidas “acabam por ser poucas, o Alqueva é muito grande e não humanamente possível para a EDIA controlar todas as entradas e saídas”, refere David Catita.
Para o responsável técnico “é urgente que as entidades nacionais definam um plano de ação que permita identificar todas as entradas e saídas”, bem como “tornar oficial a obrigatoriedade da desinfeção”.
Para David Catita “as entidades oficiais têm de tomar consciência sobre esta problemática”.