Melitina Tereso tem 84 anos e é residente no concelho de Redondo.
Trabalha com a produção de meia, ou seja, ela própria faz meias que, posteriormente acaba por vender à população do concelho de Redondo, ou até mesmo àqueles que têm interesse por peças de vestuário artesanais.
Começou a fazer meias por volta dos 17 anos de idade e contou, em entrevista à Rádio Campanário que, “quando era altura do carnaval, gostávamos muito de usar este tipo de meias, e eu depois comecei a fazer as meias.”
Melitina conta ainda que “quando nos começámos assim a orientar para estas coisas, não tínhamos carro, não tínhamos passeios com os namorados, tinham que ir as nossas mães connosco, porque não podíamos ir sozinhas com eles para lado nenhum, era tudo muito diferente da vida de hoje”.
A artesã de meias é casada há 62 anos e não tem filhos e diz não saber “o porquê de não os ter. Nós tínhamos pouco dinheiro na altura e nunca foi uma coisa que pensámos muito. Simplesmente os filhos não vinham”, acrescentando que “hoje já existe outras possibilidades para ter filhos, mas naquela altura não havia”.
Melitina conta que, apesar de 62 anos de casamento, não foi muito feliz, porque tinha muitos problemas com o marido. “Eu estava junta com o meu marido há dois anos e ele foi chamado para Angola, onde esteve quase três anos. Logo na minha mocidade fiquei afastada dele, e não era como agora, porque toda a família tinha um sentimento muito grande por ele, era diferente. Hoje em dia já não há tanto sentimento nos casais. Nem há o amor que havia antigamente”.
“Nem há respeito. Nós antigamente tínhamos que aguentar as palavras que eles diziam e ações que faziam, chorávamos um bocado e aguentávamos, nós até tínhamos medo de falar com eles”, acrescentou.
Questionada se tinha medo do marido, referiu que “sim, hoje já tenho menos, às vezes já vou dizendo certas coisas e já me adianto muito. Ele depois abala para outro lado e quando volta eu tenho algum medo, mas nunca me bateu. Bater nunca o fez, mas diz certas palavras que a mim me custam ouvir”.
Após contar um pouco da sua história à nossa redação, Melitina Tereso, voltou ao ponto de partida desta entrevista, que foi a sua produção de meias. Estas são feitas com cinco agulhas e dois novelos de linha. “Tiramos o desenho e depois fazemos a peça”, contou.
Muitos são aqueles que procura a Dona Melitina para comprar as suas meias. “Tenho vendido muitas meias, já as faço há vários anos. Começámos por ser três a fazer as meias, mas agora só estou eu”.
A venda destas meias é feita em vários eventos, como por exemplo em inaugurações, tal como aconteceu na inauguração da exposição “O Abastecimento de Águas Cristalinas da Serra D´Ossa à Vila de Redondo (24 de fevereiro de 1893 – 30 de agosto de 1903”, no Centro Cultural de Redondo, local onde a nossa redação “descobriu” a Dona Melitina Tereso, e são também muitos aqueles que se deslocam até à sua residência, de propósito, para ir comprar as suas meias.
A Dona Melitina vive na Aldeia da Serra e diz que tem muito orgulho porque é a sua terra. Tem, no entanto, alguma pena, porque “já é pouca gente que ali vive. As pessoas de idade vão morrendo e está a ficar tudo abandonado mas, houve um tempo, há anos atrás, que muita gente vivia ali naquele meio, porque não havia transportes nenhuns e a nós só vivíamos ali na aldeia. Hoje já é visitada por muita gente, tem os passadiços, vão lá muitas excursões e assim a aldeia se vai mantendo frequentada”.