Sem parar desde março, alguns diretores sentem-se exaustos e ponderam abandonar o cargo que os obriga a estar alerta 24 horas por dia para garantir o funcionamento, em segurança, das escolas durante a pandemia de COVID-19.
“Os diretores estão muito cansados até porque, além do trabalho, existe uma enorme pressão para que corra tudo bem. É muito extenuante e vários colegas têm-me confessado o desejo de abandonar o cargo”, contou à Lusa o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE) e também diretor de um Agrupamento de Escolas, Manuel Pereira.
Os diretores são responsáveis por agrupamentos onde circula mais gente do que em muitas terras do país: em Elvas, Fátima Pinto lida diariamente com os problemas de 1.500 estudantes, por exemplo. A estes alunos é preciso somar professores, funcionários e encarregados de educação e uma pandemia.
No agrupamento de Elvas, “todos os dias há casos” e por isso os telefonemas com a responsável da Proteção Civil – que faz a ligação entre a escola e o delegado de saúde – já fazem parte da rotina de Fátima Pinto. A carga do telemóvel da diretora do agrupamento de Elvas “agora só dura para meio dia”. Mas o pior, desabafou, é a sensação de “o dia não chegar para fazer tudo” desde que surgiram os primeiros casos em Portugal.
Quando um professor adoece ou fica em casa em isolamento profilático, a escola tem de arranjar alternativa para não prejudicar os alunos. “Às oito da manhã temos de ter o problema resolvido”, relatou. Nesta missão, os diretores são unânimes em salientar e aplaudir o trabalho de toda a comunidade escolar: “Não são só os diretores que estão cansados. Todo o corpo docente está esgotado”, lamentou Fátima Pinto.
Os diretores recordam o trabalho colaborativo entre docentes, a disponibilidade para dar formação a colegas e até para irem a casa das famílias ensinar alunos e pais a usar os computadores e plataformas: “Nós, professores, chegámos a casa dos pais com uma rapidez estonteante. Foi tão rápido que até nós nos surpreendemos”, lembrou Fátima Pinto.
A pandemia obrigou a criar, apenas num fim de semana, a tal “escola COVID” mas também foi preciso “acalmar os pais”, recordou o presidente da ANDE. Coube aos professores, muitas vezes já com alguma idade, a tarefa de tranquilizar as famílias.
“Os docentes e assistentes operacionais são uma classe bastante envelhecida, que também têm uma família e também têm medo”, lembrou Manuel Pereira, diretor com 63 anos.