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Crónica: 98º Aniversário de José Saramago – Um Contributo Literário e Cultural

“A história acabou, não haverá nada mais que contar”. São estas as palavras que José Saramago escolheu para acabar o seu último romance publicado em vida, Caim. Infelizmente para o autor, a vida de um escritor, mesmo depois da sua morte, é tema de análise e discussão, de fascínio e de crítica, pois a vida e contributo de um Nobel da Literatura como Saramago, é uma história inacabada e com muito que se lhe conte.

Nascido em 1922, na aldeia de Azinhaga, José Saramago faria hoje 98 anos. Certamente que carregaria também muitos mais prémios que o Prémio Camões, adquirido em 1995, e o Prémio Nobel de Literatura, em 1998, para enumerar apenas os mais relevantes. Foi serralheiro mecânico, antes de se ter dedicado às palavras e ter publicado com 25 anos o seu primeiro romance A Viúva, mas que, por razões editoriais, viria a sair com o título de Terra do Pecado. Desde então, é autor de mais de 40 títulos e criador de um estilo literário apregoado com o seu nome.

O Contributo literário

O contributo de Saramago para a literatura mundial passa muito pelo seu estilo de escrita oral, onde a vivacidade da comunicação dos personagens, sobrepõem-se às regras e ao uso convencional da pontuação e da retórica. Exemplificando, o estilo “Saramaguesco” não delimita uma frase interrogativa de uma frase declarativa convencionalmente:

“O comandante disse, Bons dias a todos, e perguntou, Em que posso servi-los, Gostaríamos de ver o elefante.”

– José Saramago (em A Viagem do Elefante)

Este tipo de marcação das falas, propicia uma forte sensação de fluxo de consciência, a ponto do leitor chegar a confundir-se se um certo diálogo foi real ou apenas um pensamento.
Este tratamento da língua remonta para algumas características dos contos de tradição oral populares.

Antes de haver literatura, havia oralidade. O conhecimento e as histórias eram transmitidos à volta da fogueira através do poder da palavra. Irene Vallejo, filóloga e escritora, acredita que o imaginário das pessoas construiu-se na oralidade, e que o poder da palavra, atualmente, reside na literatura escrita. O que José Saramago pretende com o uso incomum da pontuação, é exatamente uma aproximação do diálogo dos seus personagens à oralidade. É unânime para todos os amantes da obra do escritor, que o diálogo fluido e orgânico é um dos maiores contributos de Saramago para a literatura.

Fundação

No ano de 2007, foi criada a Fundação José Saramago em Lisboa, que zela pela difusão da literatura e pela defesa dos direitos humanos.

A dois anos do centenário de José Saramago, ainda a figura do escritor é celebrada e referenciada como um dos grandes impulsionadores da cultura portuguesa para o reconhecimento mundial.

Sugestão Cultural:

  • Para os amantes da leitura, aconselho o livro de José Saramago, Caim, publicado em 2009. Nesta obra, seguimos a jornada de Caim pelos episódios bíblicos, desde o Jardim de Éden à Torre de Babel, numa narrativa crítica, sempre graciosa, sempre à moda de Saramago.
  • A série documental “Herdeiros de Saramago”, da autoria de Carlos Vaz Marques e com realização de Graça Castanheira, que gira em torno dos 11 escritores que já venceram o Prémio Saramago. Estreia hoje à noite na RTP 1 às 22:30.

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