Hoje foi dia de festa no Lar da Santa Casa da Misericórdia da Azaruja. Familiares, utentes e funcionários celebraram a vida, mais um aniversário de uma das utentes da Instituição. Mas esta não foi uma celebração qualquer…. já que 106 anos não é para todos! D. Piedade, residente na casa desde que ela abriu em 2013, comemorou esta quinta-feira, 24 de outubro, o seu 106º aniversário. No meio de filhos, netos, bisnetos e dos restantes utentes, D. Piedade era o espelho da felicidade.
Com os olhos pintados, o cabelo arranjado e uma roupa adequada para o momento, D. Piedade olhava à sua volta e sorria. A sua expressão e olhar revelavam o que estava a sentir: não cabia em si de felicidade e o seu coração irradiava gratidão por poder celebrar este dia há tantos anos. Com a debilidade física própria da idade, desafiada pela Rádio Campanário, não hesitou em falar para o nosso microfone. Consciente disse estar “contente e sentir-se bem”. Perguntámos-lhe quanto anos ainda quer viver e de resposta pronta disse “Deus é que sabe.
Surpreendeu-nos pela sua lucidez, pela capacidade de interagir com os outros utentes e com os familiares mas acima de tudo pelo delicadeza e carinho que colocou em cada uma das palavras que nos disse. Conquistou-nos pela forma como se mostra “grata pela vida que tem conseguido, pela família que construiu e sobretudo pela convicção de que viverá, com a mesma alegria de sempre, “enquanto Deus quiser.”
Miquelina Urbano, filha da D. Piedade, era a emoção em pessoa. Sempre cuidadosa com a mãe, tal como a restante família, confidenciou-nos que “é um gosto chegar a esta altura e ter a mãe viva, e; nunca pensei que isto fosse possível.” Chegou a temer que o pior acontecesse quando o Covid nos apanhou a todos de surpresa, uma pandemia que foi mortal para milhares de idosos em todo o País mas onde D. Piedade quis ser “diferente” dos outros utentes da Instituição: todos acabaram por contrair o vírus mas ela conseguiu “fintá-lo e foi a única que nunca se deixou apanhar
D. Piedade nunca trabalhou fora de casa. A sua vida foi sempre dedicada aos filhos e à sua criação. Entre os netos encontrámos Álvaro Clementino, com quem a aniversariante teve desde sempre uma relação muito especial. Foi avó e um pouco mãe. Esta grande proximidade foi facilmente percetível quando as mãos de ambos se entrelaçaram e quando vimos o abraço carregado de ternura que trocaram entre si. Álvaro realçou que “a minha avó deve ser caso único, já não se usa” realçando contudo que , apesar dos 106 anos, a Avó continua a manter uma enorme vontade de viver. “Ter uma avó com esta idade é um orgulho, não há igual” disse-nos ainda o neto da aniversariante.
As velas foram acesas e os parabéns foram cantados. D. Piedade estava ansiosa, não por poder regressar à sua rotina habitual, mas sim para comer o bolo e beber o vinho do Porto que assinala o brinde a mais um ano de vida.
No final da festa, D. Piedade regressou para junto dos outros utentes. Cansada mas feliz. Na hora da despedida convidou-nos para a festa dos seus 107 anos. Perguntámos-lhe qual o segredo para esta longevidade, disse-nos “não saber” e nós acreditámos… porque nas suas palavras e no seu olhar encontrámos sinceridade, ternura, tranquilidade .
Que o dom da vida continue a abençoar esta verdadeira “força da natureza” e que em 2025 voltemos todos a cantar “Parabéns a você, D. Piedade.”
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