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Diretores hoteleiros referem que “há uma tempestade perfeita” para escassez de trabalhadores

A Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal considera haver vários fatores para a falta de mão-de-obra no setor, situação para a qual alerta há vários anos, e que juntos conduzem a “uma tempestade perfeita”.

Em declarações à Lusa, o presidente da direção da Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal começa por lembrar que “há vários anos” que alertam para esta questão que recentemente voltou à agenda mediática — “acelerada por causa da pandemia” –, e aponta os motivos para o problema.

“Esta descoberta que parece que se fez agora da falta de mão-de-obra é um processo que avisamos há vários anos que iria acontecer naturalmente, quer pela evolução da economia e pela diminuição do desemprego, quer pela falta de alternativa de capital que a área do turismo tem e depois pela competitividade exterior com outros países”, afirmou o presidente da direção da Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal em declarações à Lusa.

Desde logo, lembra, porque se os baixos salários são “um problema interno do país” e transversais ao resto da economia, no setor turístico e hoteleiro, especificamente, “é mais visível”, isto porque se pedem “qualificações maiores às pessoas, como seja o falar línguas”, ou “a seriedade para se mexer em dinheiro” e “alguma cultura” para saber falar com os clientes.

Exigências que não são, em sua opinião, contrapostas por “um valor acrescentado à vida das pessoas como seja um ordenado em condições”.
“Durante os últimos anos começámos a desregulamentar as profissões, não só a de diretor do hotel, mas de todas as outras, com o fim das Carteiras Profissionais. Isso traz algum desconforto em termos de visibilidade porque dá a ideia de que qualquer pessoa pode desempenhar aquelas funções”, explicou, afirmando que é uma situação que se estende a um empregado de mesa, uma governanta, trabalhadores de limpeza de quartos ou outros.

“Qualquer pessoa serve para tudo — na receção é necessário é falar inglês — e depois nada disto é coerente com o serviço, com os prémios que queremos ganhar ou com a imagem que queremos passar”, afirma.

Assim, aponta, há “um fugir da mão-de-obra para outros setores”, como seja contratações nos hospitais privados que “hoje em dia têm receções com pessoas como os hotéis”, lembrando que em Lisboa há hospitais que “têm 30 receções lá metidas dentro, com sete ou oito funcionários”. A esta concorrência interna junta-se a do mercado internacional, como acontece com os cruzeiros.

“Ainda antes da pandemia teve cá uma empresa de cruzeiros a recrutar chefes de alojamento, chefes de cozinha, ‘housekeeping’ [serviços de limpeza], governantas, diretores, e recrutou duas mil pessoas em quatro dias”, sublinhou.

Para além disto, acrescenta, ainda tem que se olhar para o facto de muitos alunos das escolas superiores de turismo acabarem por optar pelo trabalho lá fora onde têm uma maior margem de progressão.

“Os alunos, especialmente no ensino superior por imposição das normas da A3ES, têm que fazer Erasmus [estágios fora do país], estando nós a falar da maior parte das escolas superiores mandarem — fora da pandemia — quase 70% de alunos para os programas que fazem parte da internacionalização, o que é bom. Só que depois há um efeito contrário: as pessoas contactam com hotéis de grande dimensão. Se pensarmos que o tamanho médio de um hotel em Portugal não chega aos 50 quartos, vamos perceber que um aluno que acaba a licenciatura e vai para rececionista por profissão, a esperança de subir na carreira é relativamente pequena, porque em 2.000 e qualquer coisa hotéis em Portugal, há 2.000 e tal diretores, 2.000 e tal chefes de cozinha, etc, e a pessoa não espera 30 anos para chegar ao cargo vai-se embora”, explicou.

Esta é também uma das razões pela qual considera haver tanto desvio de mão-de-obra para hotéis lá fora com 500 ou 600 quartos, ou para destinos até como o Dubai ou Macau, “onde há hotéis de cinco mil quartos” e nos quais se empregam 400 chefes de cozinha, por exemplo.

“E tudo isto junto é uma tempestade perfeita”, resume.

O presidente da Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal admite também, como vários hoteleiros, que quando os hotéis reabriram na pandemia não havia mão-de-obra para “aguentar esse crescimento rápido, porque muitos [trabalhadores] mudaram de profissão, estão em fundos de desemprego, e não sabem quando é que iriam ser dispensados outra vez, como foram”.

E, lembra, ainda que não se pode dizer que haja um mercado de visitantes estrangeiro, cujas entradas estão “quase paradas”. Depois, entre as aberturas ao mercado e algumas retrações, como a que vivemos com o aumentar de novos casos de covid-19, há um problema difícil de gerir, admite.
 

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