Faz hoje dois anos do trágico acidente da estrada entre Borba e Vila Viçosa, onde cinco vidas humanas se perderam.
Susana Rocha, filha de uma das vítimas deste acidente, deixa hoje um testemunho de quem perdeu o seu Pai nesta fatídica tarde.
Fique de seguida com o testemunho:
“E a vida continua…
(como diz o clichê, e ficando pelo clichê)
Depois do interregno da nossa vida que ficou suspensa no vazio por 13 dias, e em parte até hoje, vem a difícil tarefa de encontrar a matéria da vida quando se lida com a morte e a sua mais cruel manifestação – a ausência. Vidas devastadas pela incredulidade do que aconteceu, desconcertadas pela falta da resposta aos porquês, reviradas por ausências que preenchiam espaços físicos, funcionais, e mais do que nunca tão sentidos, espaços emocionais que não mais encontram corpo e matéria espiritual. Eu não sei como se lida com o luto, acredito que é algo pessoal vivido nunca de forma igual. O que sinto, até ao dia de hoje, é que não lhe reconheço cor. Sinto-lhe o peso, embora muitas vezes pareça planar na procura de refúgio, mas sinto-lhe permanentemente o peso. Na burocracia, nas responsabilidades, nas preocupações e dificuldades acrescidas, mas principalmente sinto o peso do vazio, mesmo que sem sentido na relação prática de conceitos, sinto-lhe o peso. O vazio do presente onde a vida mudou, na rotina, nos convívios, no trabalho. O vazio do futuro, nos projetos, nas ambições, nos sonhos…enfim, em tanta coisa que se torna pesarosa de aqui escrever para quem lê e de aqui escrever para quem tem de abrir o peito para o fazer.
Um vazio do presente e do futuro, mas nunca do passado. Ou talvez também. O que torna tudo tão doce como amargo. Ficam as memórias dos bons momentos, mas também a impossibilidade de perdoar, de fazer crescer e aprofundar laços, de nos rever e reconfigurar sob a influência de quem temos ao nosso lado.
Fica na data, após dois anos, o desabafo e o agradecimento a quem ficou e procurou, não preencher o vazio, mas estando ao nosso lado fazer a diferença. E fez.
Susana Rocha”.