“Estamos em contacto com as autoridades portuguesas e, assim que recebermos informações concretas, veremos como poderemos fazer face à situação”, disse o diplomata do Paquistão sobre Odemira.
A Embaixada do Paquistão em Lisboa declarou esta quinta-feira à agência Lusa que acompanha “de perto” os acontecimentos ligados às duas freguesias de Odemira, face ao elevado índice de Covid-19 entre os imigrantes que trabalham na agricultura na região.
Em declarações à Lusa, o encarregado de negócios da missão diplomática do Paquistão em Lisboa, Malik Umair Khan, referiu não haver certezas quanto ao número exato de cidadãos paquistaneses que estão na região — “estima-se que serão entre 20 e 30, mas não temos qualquer mecanismo para os contar” —, salientando que nenhum deles contactou a embaixada em Lisboa a pedir apoio.
Nestes acontecimentos recentes, ninguém contactou até agora a embaixada. Já falamos com o departamento de Segurança Social das autoridades locais [de Odemira] e dissemos-lhe que se algum dos membros da nossa comunidade precisar de alguma ajuda que nós estamos aqui”, afirmou Umair Khan.
O diplomata do Paquistão lembrou que a embaixada já tinha falado com as autoridades locais de Odemira logo após o primeiro confinamento decretado em Portugal (em março, abril e maio de 2020), pelo que foi possível, nessa altura, ajudar a comunidade paquistanesa que, na altura, eram cerca de dezena a dezena e meia, a quem foi, entre outras ofertas, dada comida.
“Mas, até agora, não recebemos qualquer pedido dos membros da comunidade paquistanesa, nem do departamento da Segurança Social das autoridades locais”, sublinhou Umair Khan, já em relação à atual situação em Longueira/Almograve e São Teotónio (no concelho de Odemira).
Questionado pela Lusa sobre se a presença de imigrantes, alguns deles ilegais, a trabalhar na agricultura naquela região deve-se a esquemas de tráfico de pessoas no quadro de uma rede de crime organizado, Umair Khan sublinhou que, apesar de não estar a par de tudo o que se passa, acredita que sim.
Tanto quanto sabemos, não estando a par de tudo, sim. Mas estamos preocupados com estes relatos [na imprensa] e aguardamos pela investigação que está a ser feita pelas autoridades portuguesas para sabermos o que têm a dizer sobre o assunto. Estamos em contacto com as autoridades portuguesas e, assim que recebermos informações concretas, veremos como poderemos fazer face à situação”, respondeu.
No entanto, o diplomata paquistanês defendeu à Lusa que, neste tipo de situações, as autoridades portuguesas e locais “deveriam proceder a uma melhor fiscalização“, sobretudo no que diz respeito às condições de vida.
“Penso que, como as pessoas vão para Odemira para trabalhar na agricultura, deveria haver uma melhor fiscalização em relação às condições de vida. Segundo os relatos que estamos a ouvir nas notícias, as condições de vida não deveriam ser tão más como as que existem. Deviam dar melhores condições a estas pessoas, mesmo que haja o envolvimento de redes de tráfico de pessoas ou de uma máfia por trás”, sustentou.
Questionado sobre o que pode a embaixada fazer, Umair Khan realçou que a missão diplomática está disponível para ajudar os cidadãos paquistaneses em Portugal.
“A embaixada está aqui para ajudar os nossos cidadãos. Se necessitarem de qualquer tipo de ajuda, de apoios legais, estamos para prestar assistência, tal como o fizemos na primeira fase da pandemia, logo após o início do confinamento entretanto imposto em março, abril e maio de 2020. Vários funcionários da embaixada estorvam lá [em Odemira] e entregaram comida aos cidadãos paquistaneses. Mas ficaremos satisfeitos se pudermos fazer mais alguma coisa por eles, seja qual for a forma de o fazer”, sublinhou.
As freguesias de Longueira-Almograve e São Teotónio estão em cerca sanitária desde a semana passada por causa da elevada incidência de Covid-19 entre os imigrantes que trabalham na agricultura na região.
Na sexta-feira, o Governo determinou “a requisição temporária, por motivos de urgência e de interesse público e nacional“, da “totalidade dos imóveis e dos direitos a eles inerentes” que compõem o complexo turístico ZMar Eco Experience, na freguesia de Longueira-Almograve, para alojar pessoas em confinamento obrigatório ou permitir o seu “isolamento profilático”.
Esta quinta-feira, cerca de 50 imigrantes que trabalham na agricultura na região foram realojados durante a noite no complexo turístico Zmar (21 pessoas) e na Pousada da Juventude de Almograve (30), disse à Lusa o responsável da Proteção Civil no Alentejo, José Ribeiro, que garantiu que todas as pessoas deste grupo estão negativas para o novo coronavírus, que provoca a Covid-19.
Fonte: Lusa