José Pires Possas, empresário dos mármores sediado na zona contígua à estrada onde ocorreu o desabamento da antiga estrada EN255 na passada segunda-feira (19 de novembro), que ligava Borba e Vila Viçosa, em declarações à RC, afirma que a tragédia poderá ser “o fim aqui” do setor dos mármores.
O empresário esteve presente na reunião que ocorreu em 2014 para debater as condições da antiga EN255, convocada pelo Ministério da Economia, que reuniu empresários da região, a autarquia e a Direção-Geral da Economia e Geologia, afirmando que “não se chegou lá a nenhuma conclusão”.
“Que aquilo estava em perigo estava, mas não se chegou a nenhuma conclusão. Havia ali vários interesses”
Quando inquirido se o desfecho dessa reunião se prendeu com interesses económicos de exploração do mármore, replica “era tudo isso”, defendendo que “com os problemas económicos que há, ninguém se chegou à frente”.
A autarquia, na pessoa de António Anselmo, presidente da Câmara Municipal de Borba, apresentou na altura “duas alternativas” à antiga estrada nacional 255, avança.
Contudo, defende que “quem tinha poder é que devia ter tomado as providências”, uma vez que os empresários dos mármores, enquanto tivessem licenças, continuavam os trabalhos. “Alguém mais acima é que devia ter tomado uma decisão”.
José Pires Possas defende ainda que “as autarquias não têm dinheiro suficiente” para este tipo de obras, e que “o Estado também não queria” uma vez que a estrada foi municipalizada em 2005, altura em que foi construída uma variante. Contudo, defende que “o Estado devia ter tomado logo ali uma medida”.
Mais adianta o empresário que todos os intervenientes na reunião “passavam ali também”, tendo continuado a utilizar a estrada por conveniência, partindo “do princípio que aquilo está seguro”.
Questionado porque é que em 4 anos ninguém voltou a alertar para a situação, nomeadamente os empresários, José Pires Possas aponta que “verificávamos que havia lá fendas, mas nunca pensámos que aquilo chegasse”, uma vez que uma pedreira se encontra inativa, e a outra tinha licença de exploração. Por fim, “com o mau tempo, aquilo caiu”.
Sobre a determinação do Ministério do Ambiente e da Transição Energética para a inspeção ao licenciamento, exploração, fiscalização e suspensão de operação das pedreiras na zona da derrocada de estrada entre Borba e Vila Viçosa, aponta que “isto agora é o mais fácil, eles fazerem o decreto”, contudo, “ao terreno é que eles têm que vir” para compreender como será o setor afetado, “que não vieram nem vêm”.
“Não sei se isto não será o fim aqui deste setor”
Considerando o impacto da tragédia ocorrida no início desta semana, ao nível do encerramento de empresas, consequente desemprego e fim das exportações, aponta que as repercussões da medida para as empresas “são grandes”, pelo que defende a necessidade de auxílio da parte do Governo. “Mas não, é fácil chegar, fazer um decreto, fazer uma lei, nós temos que cumprir, e no outro dia estão aí para nos multar”.
Mais avança, que o setor dos Mármores “está em crise” uma vez que dependia do mercado europeu e depois do árabe, que também se encontram em crise. “Estamos a procurar outras soluções”, mas “é muito difícil”, nomeadamente devido à concorrência.