Sobre a questão da retenção de água por parte de Espanha, e questionado pela RC quanto às medidas que o governo português deverá tomar, o Eng.º Gonçalo Tristão dividiu a sua resposta em duas perspectivas: a do agricultor, que é e a do cumprimento do acordo existente entre Portugal e Espanha sobre o regime de caudais.
Quanto à primeira, compreende “perfeitamente as queixas dos agricultores espanhóis”, pois os agricultores da bacia do Douro, sem água para regar as suas culturas, iriam ver a mesma ser disponibilizada, “em quantidades enormes” para a produção de energia hidroeléctrica em Portugal; na perspectiva do acordo luso-espanhol, o mesmo “tem que ser cumprido”, existindo “alguma falta do lado nacional no sentido de que os famosos caudais ecológicos sejam transmitidos para as nossas bacias, ao longo do tempo”, evitando o que aconteceu no Douro, em que, para se cumprir a convenção entre Espanha e Portugal, houve a libertação de uma enorme quantidade de água desde o país vizinho.
Gonçalo Tristão defendeu que “a questão dos caudais deve ser regulada ao longo de todo o ano hidrológico”, um trabalho que “do lado português está a faltar”.
À pergunta da RC sobre a retirada de água, por parte de Espanha, de água da Barragem do Alqueva e sua monitorização, o mesmo referiu que “os espanhóis usam e abusam da água de Alqueva, da água do Guadiana”, inclusive a jusante de Mértola, situação que “nós também não controlamos”, sejam a EDIA, a APA ou outra entidade nacional.
Quanto aos olivais intensivos e a seca, não altera a sua posição, pelo menos por agora, pois esta cultura “não é grande consumidora de água”, ao contrário do que “às vezes se ouve”.
Notando que a cultura do milho “gasta muito mais” água, considera ser grande consumidor de água “um mito que o sector ainda não conseguiu desfazer”, manter-se-á atento, contudo, à evolução da disponibilidade de água, proveniente da chuva ou existente nas barragens.
Terminou referindo, que ao contrário do que surge muitas vezes em opiniões, comentários, , redes sociais, meios de comunicação social, de “que a agricultura está a tirar água, por exemplo, ao consumo humano”, esta situação não é possível em Portugal, pois a legislação nacional coloca sempre em primeiro lugar o consumo humano, ou seja, “não há nenhum litro, m3 dirigido à agricultura que seja retirado do consumo humano” – há barragens destinadas exclusivamente à agricultura, mas em barragens destinadas também ao consumo humano, este é prioritário – “se se prever que não há água para uma determinada povoação, a agricultura não pode tirar de lá a água”.