Com o país a atingir recordes de casos diários de covid-19, habitantes de uma das freguesias com menos eleitores do Alentejo mantêm o plano, sem “pensar duas vezes”, de ir às urnas nas legislativas do dia 30.
Os quatro aglomerados de casas na freguesia de São Domingos de Ana Loura, no concelho de Estremoz, distrito de Évora, são percorridos diariamente por uma carrinha da padaria e a sua buzina funciona como chamariz dos clientes.
Já com o pão da manhã na mão, Rosa Rodrigues, habitante da Venda do Ferrador, diz à agência Lusa que “só se não puder” é que não vai votar nestas legislativas, defendendo que, apesar da pandemia, “pelo menos as eleições têm que se cumprir”.
“Toda a gente devia ir. Por isso, eu também estou disposta a isso”, sublinha, considerando que não existe risco de contágio do vírus na hora de votar, porque “as pessoas também não são muitas” nesta freguesia e vão “ter cuidado”.
Mesmo que existissem muitos casos de covid-19, “com isto das eleições, não pensava duas vezes e ia votar. Com os devidos cuidados e precauções, mas ia”, afiança.
Rosa e o marido, que eram proprietários de um café e padaria neste sítio da freguesia de São Domingos de Ana Loura, ficaram infetados há cerca de um ano e são dos poucos moradores que já tiveram covid-19.
Depois de comprar pão na ‘padaria ambulante’, também outra habitante, Cidália Guerra, assume à Lusa que não tem dúvidas de que vai exercer o direito de voto no dia 30 e que, “se as pessoas tomarem os cuidados necessários” durante o ato eleitoral, “não há risco” de contágio.
“Eu levo máscara e há sempre o desinfetante. Se tivermos os cuidados necessários, penso que não é por aí que vão aumentar os casos”, considera, advertindo, porém, que em “meios maiores pode haver algum perigo”.
Maria de Fátima Baiona, que habitualmente aguarda a chegada da carrinha do pão junto ao edifício da junta, partilha da mesma opinião e admite que não está preocupada, pois a covid-19 está a tornar-se “normal” e as pessoas vão “ter que se habituar”.
Quem tem igualmente “ideias” de ir votar é João Maltinha, que foi taxista em Lisboa durante 30 anos e, agora, já reformado, vive na sua terra, afirma à Lusa, enquanto tira o carro da garagem.
“É um dever cívico das pessoas” e, além disso, “isto está tudo tranquilo” em relação a casos de covid-19 na freguesia e os que existiram “foi só uma ameaçazita que passou logo de repente”, observa.
Avisando logo que está sem máscara na cara por ir para “um monte” que tem nas proximidades da Venda do Ferrador, Manuel Afonso conta que vota sempre.
Desta vez, só não vai se ficar infetado e “proibido de entrar” no salão da junta, onde é instalada a assembleia de voto.
“Há quem ande desiludido com isto, porque é sempre a mesma coisa, entra e sai e há muitos que não vão” votar, mas, devido à pandemia de covid-19, “estou convencido que não é”, refere.
Em Espinheiro, outro dos lugares da freguesia, Bárbara Tracanas, proprietária de um café e mercearia, reconhece que tem “algum receio” de ir votar, mas vinca que a covid-19 “também não impede” que cumpra o seu “dever cívico”.
“Se vamos a outros lados, porque é que não havemos de ir votar”, questiona.
Tal como Bárbara, o vizinho Armando Facadinhas, à porta do café, também diz que vai votar no dia 30 e que confia nas pessoas da junta que vão preparar o espaço para a votação com “todas as condições de segurança”.
Situada a oito quilómetros de Estremoz, a freguesia de São Domingos de Ana Loura, com uma população envelhecida, tem 261 eleitores inscritos para estas eleições, segundo o presidente da junta de freguesia, Joaquim Véstias.
A única mesa de voto, nota, vai ser colocada no “salão amplo” da junta e será preparado “um circuito para as pessoas entrarem” e, depois, “não saírem pelo mesmo sítio”, tal como aconteceu nas autárquicas de 2021.
“Os eleitores vão sentir-se à vontade para votar, mais uma vez”, como fizeram em setembro, porque “estão criadas as condições”, considera, esperando “uma boa afluência às urnas”, tal como nas autárquicas, quando se registou “uma abstenção de 21%” na freguesia.
O Governo prevê que nas eleições legislativas de janeiro haja um número de cidadãos confinados semelhante ao das últimas presidenciais, cerca de 380 mil, e aguarda a resposta do Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República (PGR) a um pedido de parecer sobre se o isolamento devido à covid-19 impede que se exerça o direito de voto, ou se poderá ser suspenso para esse efeito.
C/Lusa