Francisco Laranjeira, licenciado em Sociologia pela Universidade de Évora (UÉ) e finalista no Mestrado em Gestão de Recursos Humanos também na instituição, alcançou assim o recorde pessoal em Szczecin, na Polónia, trazendo para Portugal duas medalhas de prata que ganham um sabor especial no culminar de uma época dura para o atleta que não contou com o apoio do Projeto de Preparação Surdolímpica e que passou pela recuperação de um acidente.
A paixão pelo atletismo surgiu no primeiro corta mato escolar em que participou, com 12 anos de idade, na sua cidade natal, Elvas, e desde aí que corre por gosto e nada o “cansa”. A sua resiliência perante os obstáculos é evidente. Apesar de ter sofrido um acidente, em 2022, que o impediu de disputar a principal competição da sua carreira, estreando-se nos Jogos Surdolímpicos no Brasil, em maio desse ano, Francisco Laranjeira não desistiu e, após vários meses de fisioterapia intensa, chega pouco mais de um ano depois a consagração de anos e anos de dedicação à modalidade.
“Senti muita impotência naquele momento, fiquei mesmo sem chão. Mas tive de aceitar e focar-me na recuperação física e psicológica para regressar rapidamente e começar a entender que há impasses que não são controláveis e que surgem na vida. Estes obstáculos serviram para me mostrar que sou uma pessoa resiliente e persistente, fizeram-me chegar ainda melhor a este momento, mostraram-me que basta acreditar e lutar pelos meus objetivos”, conta-nos ao recordar a subida ao pódio.
Com apenas 30% da audição, encontrou na prática desportiva uma fonte de confiança. “Nem sempre foi fácil lidar com a minha surdez, alguns comentários de outras pessoas faziam-me sentir inferior e excluído, e a adaptação às próteses auditivas também não foi fácil. Mas superei estes obstáculos, não só devido ao apoio da minha família e amigos, mas também porque o desporto me deu confiança para me aceitar tal como sou. Afinal, todos nós somos diferentes, mas iguais com características especiais”, explica.
Considera, no entanto, que ainda há um longo caminho a percorrer para alcançar a verdadeira inclusão no desporto e para que este seja também uma ferramenta para a inclusão. Desde que sofreu o acidente e ficou sem poder competir, Francisco Laranjeira viu os patrocinadores ainda mais longe e perdeu apoios de organismos desportivos, contando apenas com o apoio da família, na expectativa de recuperar em breve o apoio do Comité Paralímpico de Portugal.
A conciliar os estudos com o desporto, são várias horas que dedica a treinos bi-diários, massagens desportivas, uma alimentação rigorosa e a uma rotina de sono essencial para a sua recuperação, tendo no horizonte as suas referencias no atletismo “Carlos Lopes, Mo Farah e Jokob I Jakob Ingebrigtsen, sendo que a minha maior motivação é mesmo a minha família, o meu treinador, amigos e colegas de treino que me dão força para seguir a minha paixão”, destaca.
O atleta elvense representa o Grupo Desportivo Diana, de Évora, treinado por João Ferrão, e representa a Universidade de Évora no campeonato universitário. “Queria dar à universidade o meu contributo como atleta e deixar bem representada a instituição que eu escolhi para traçar o meu percurso académico”, concluiu.