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Évora avança com projeto pioneiro na área da cultura. “Ir ao teatro como quem toma um Prozac”

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O projeto está a ser desenvolvido pela Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central, em parceria com os agentes culturais e em articulação com o setor da saúde. A “prescrição cultural” é um conceito inovador em Portugal. Está inserido num programa mais vasto, o Transforma, que pretende criar inclusão através da cultura, conta a Renascença.

E se em vez de um medicamento para combater, por exemplo, o stress, um estado depressivo ou de ansiedade, os serviços de saúde lhe prescrevessem uma ida a um teatro ou a uma aula de cante alentejano?

Provavelmente, a ideia agrada-lhe. Chama-se “prescrição cultural” e é um projeto inovador que está a dar os primeiros passos em Portugal, a partir do distrito de Évora, no Alentejo.

A iniciativa está a ser desenvolvida pela Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central (CIMAC), que abrange os 14 municípios do distrito de Évora, em parceria com os agentes culturais e em articulação com o setor da saúde (cuidados primários), numa tentativa de experimentar processos de prescrição cultural complementares à prescrição médica convencional e ao apoio social.

“Gostaríamos de trabalhar com os cuidados de saúde primários, para que os médicos saibam que, no seu território, existe uma série de iniciativas, estamos a falar de workshops, de coletividades ou até de espetáculos e outros eventos, que eles podem, literalmente, prescrever aos seus utentes, em complementaridade ao tratamento convencional”, explica, à Renascença, Ana Isa Coelho, responsável da CIMAC pela concretização do programa Transforma – Programa para uma Cultura Inclusiva do Alentejo Central, onde se integra a prescrição cultural.

“Em Portugal, temos alguns exemplos da chamada prescrição social, por exemplo, em Lisboa, na Mouraria”, refere a técnica. “Há projetos interessantes, mas não passam tanto por prescrever cultura, digamos assim. Nós fomos beber esta ideia, aos exemplos do Reino Unido e da Europa do Norte, que apresentam resultados muito positivos”, garante.

“Não estamos ainda em condições de convidar agentes para desenvolver, por exemplo, o projeto terapêutico, cultural, para pessoas que sofrem de depressão ou que estão institucionalizadas, por exemplo”, mas “estamos empenhados em dar alternativas aos cuidados de saúde primários”, adianta Ana Isa Coelho.

Mesmo sabendo da sobrecarga dos serviços de saúde, os promotores do projeto acreditam na sua “boa vontade”, para entrar “nesta aventura” da prescrição cultural.

“É ir ao teatro como quem toma um Prozac”, equipara a técnica. “O Prozac não resolve tudo, ajuda, mas há toda uma componente social e de reabilitação pessoal que achamos que a cultura pode dar resposta e contribuir para o bem-estar de utentes com determinadas patologias”.

A pandemia acentuou uma série de problemas sociais, com um aumento substancial de problemas ligados à solidão, ao isolamento ou à depressão, fatores que numa sub-região onde 7% da população vive isolada, ganham maior expressão.

“Se trabalharmos a inclusão apenas nos grupos que têm problemas, na verdade, não estamos a promover a inclusão, estamos só aumentar a segregação, portanto, é preciso pôr estas pessoas em contato com o resto da comunidade”, alude a responsável.

Outra das vertentes do Transforma, são as ações de inclusão, existindo algumas experiências muito interessantes.

Retratos “como forma de empoderamento” dos idosos

A Malvada Associação Artística, nasceu em 2018, numa iniciativa do fotógrafo e psicólogo José Miguel Soares e da encenadora Ana Luena. Uma aposta num território de baixa densidade populacional como plataforma de criação e reflexão artística contemporânea.

A par das suas criações, A Malvada, desenvolve, numa sala da antiga Escola Primária dos Canaviais, freguesia da cidade de Évora, um projeto educativo, com laboratórios e oficinas de formação abertos à comunidade, além de projetos de criação e inclusão social.

É no âmbito desta atividade que surge a sua participação, em 2020, no Transforma – Programa para uma Cultura Inclusiva do Alentejo Central, coordenado pela CIMAC.

“No âmbito do Transforma, nós desenvolvemos três projetos, dois de inclusão pela fotografia e um de inclusão pela criação literária. No caso da fotografia, estamos a atuar nos concelhos de Alandroal Borba, Reguengos de Monsaraz, Évora e Estremoz”, diz, à Renascença, Ana Luena.

“O nosso público-alvo são os idosos, foi com eles que trabalhamos, numa primeira fase, em encontros em jardins e praças, por causa da pandemia, sempre acompanhados pelos nossos parceiros, os municípios ou as misericórdias e, só depois passamos à ação”, refere a encenadora.

A ação de que fala a responsável, intitula-se “Topofilias”. Envolve a população excluída por envelhecimento e isolamento e tem como foco “o espaço e o lugar praticado e vivido”, como forma de recuperar e produzir memória”.

“No fundo, este projeto é sobre o património humano do Alentejo, com uma grande percentagem de idosos e que, com esta questão da pandemia, ficaram ainda mais excluídos”, lembra Ana Luena.

A fotografia com seniores, depois de vários meses de aprofundamento de relações, deu origem a diferentes exposições de retratos, uma por cada concelho abrangido. Três já foram inauguradas, a próxima acontece em Monsaraz, no concelho de Reguengos, neste sábado, dia 17.

“Tivemos momentos muito fortes. Foi uma oportunidade para os mais velhos terem contato e poderem ser fotografados”, acrescenta a encenadora, lembrando que “o retrato, por si só, também é uma forma de empoderamento das pessoas e em especial destas pessoas idosas”.

In https://rr.sapo.pt/

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