No dia 3 de outubro de 1922 teve início o maior conflito laboral de que há registo, na vila mineira de Aljustrel. Durante quatro intermináveis meses, os mineiros mantiveram-se em greve para exigir melhores condições de trabalho, de vida, de salários, bem como as oito horas de trabalho diário e o fim da repressão. Esta greve, com contornos dramáticos, teve grande repercussão no país e no estrangeiro e desencadeou uma ampla e comovente onda de solidariedade para com estes trabalhadores e seus familiares que, desprovidos de rendimentos, se viram obrigados a entregar à compaixão do operariado de Lisboa, Barreiro e Beja entre outros locais, mais de uma centena das suas crianças para que elas tivessem de comer.
Para assinalar esse histórico acontecimento, uma comissão informal de aljustrelenses propôs-se organizar a exposição ALJUSTREL – 100 ANOS, DO FUNDO À SUPERFÍCIE, que mostra a história tão rica em acontecimentos desta terra mineira, cujas jazidas são exploradas há mais de 2000 anos.
Esta greve dos mineiros insere-se no quadro da difícil recuperação económica do pós-guerra, do início do século passado. Este período foi fértil em greves de “resistência” em todo o país.
Em Aljustrel, os trabalhadores resistiram quatro longos meses, durante os quais foram alvo de forte repressão e de intimidações por parte dos elementos da GNR, que não hesitavam em agredir e atirar disparos para o ar, sempre apoiados pela administração da empresa mineira. Para agravar a situação, responsáveis da Associação Comercial e Industrial de Aljustrel incentivaram os agricultores e comerciantes a não dar trabalho, alimentos, nem crédito aos grevistas. A miséria e o desânimo instalaram-se ainda mais. Nesse período, registaram-se muitos distúrbios, com assaltos a celeiros e à fábrica de moagem das minas, em resultado da fome sentida pela população. O sindicato foi encerrado e as reuniões interditas pela autoridade máxima do Concelho. A prisão de vários mineiros inconformados e revoltados provocou uma onda de solidariedade dos trabalhadores agrícolas que se juntaram aos grevistas.
Este movimento de apoio alargou-se ao país. Além do acolhimento das crianças em diversas casas, também os operários receberam dinheiro dos mineiros das minas de S. Domingo e do Lousal e, um pouco por todo o lado, organizaram-se festas e campanhas para angariação de fundos destinados a ajudar os grevistas.
A greve terminará a 21 de Janeiro de 1923, com o director da mina a garantir o regresso dos mineiros ao trabalho, sem represálias, embora não tivessem sido atendidas todas as suas reivindicações. Após reunião da Confederação Geral do Trabalho (CGT), é decidido que as crianças regressariam às suas famílias, em Aljustrel, no dia 17 de Fevereiro de 1923, gerando uma recepção com muita emoção.
A exposição ALJUSTREL – 100 ANOS, DO FUNDO À SUPERFÍCIE, que estará patente de 1 de Novembro a 4 de Dezembro de 2022, na sede do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira (STIM), irá dar a conhecer esta história e outras mais da vida dos mineiros de Aljustrel com o seu quotidiano de miséria, de lutas e resistências que sucederam nesta vila mineira.
Paralelamente à exposição serão realizados debates, um documentário, uma peça de teatro e um grande espetáculo de encerramento.
A exposição conta com o apoio da Câmara Municipal de Aljustrel, das Juntas de Freguesia do Concelho, do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira, da Almina-Minas do Alentejo, da Fiequimetal, da Rádio TLA, do Museu do Aljube, da CGTP, da União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP), do Grupo de Estudos do PCP e da União dos Sindicatos de Beja.