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Faz hoje 750 anos que nasceu Santa Isabel, Rainha de Portugal

Cumprem-se exactamente, hoje, 750 anos sobre o nascimento de uma das maiores Rainhas portuguesas e da santa com maior renome no santoral português, depois da Virgem Maria. Mas quando nasceu ela?

Até 1894, aceitava-se a data da sua primeira biografia, a chamada Lenda ou Relação: 1309 da Era de César, i.e., 1271 da Era de Cristo. António de Vasconcelos recordaria que Sánchez Moguel, professor da Universidade de Madrid, demonstrou, em 1894, que a data estava errada. Aquando do casamento com D. Dinis, a 11 de Fevereiro de 1282, o contrato fez-se “por palavras de presente, o que exigia que a noiva tivesse já atingido a maioridade legal dos doze anos completos”. Assim ela declara no texto latino: “Eu, Isabel, filha do excelente D. Pedro, por Graça de Deus Ilustre Rei de Aragão, entrego o meu corpo, como esposa legítima a D. Dinis, por Graça de Deus Rei de Portugal e do Algarve, ainda que ausente, mas como se estivesse presente, e dou o meu consentimento sobre esse matrimónio a vós, procuradores supra referidos, pelo bom nome do dito Senhor Rei de Portugal”. Mas só com Sánchez Moguel se reparou, pela primeira vez, neste pormenor. Ao exprimir-se na primeira pessoa, afirma que é ela que assume os votos e concede aos procuradores de D. Dinis consentimento para contrair matrimónio, como se já tivesse idade legal para o fazer, ou seja, 12 anos, nesse dia 11 de Fevereiro de 1270.

Vasconcelos refere ainda uma procuração de D. Dinis passada em 12 de Novembro de 1281, em Estremoz, aos procuradores para contraírem, em seu nome, casamento com D. Isabel por palavras de presente (i.e. matrimónio efectivo) ou por palavras de futuro (i.e. esponsórios). Isto significa que ela estaria prestes a fazer 12 anos. No dia 11 de Fevereiro de 1282 já os teria completado. É este o limite temporal de A. de Vasconcelos para o nascimento de D. Isabel: entre finais de 1269 e inícios de 1270, datação adoptada por vários historiadores, como a professora Maria Filomena Andrade, no mais recente estudo biográfico sobre a Rainha Santa.

Vasconcelos aduz, em favor desta datação, outro informe cronológico, colhido na sua biografia que diz que D. Afonso III morreu a 13 de Fevereiro de 1279, sendo ela “já de idade de noue annos”. Se então tinha nove anos, D. Isabel teria nascido antes de 13 de Fevereiro de 1270.

Na sua opinião, a data da Lenda estaria, pois, errada: o copista teria confundido, num “lapsus oculi” compreensível, “m·ccc·viij com m·ccc·viiij”.

O P. Sebastião Rodrigues, capelão da Confraria, descobriu cartas inéditas que publicou sob o título de “Rainha Santa – Cartas Inéditas e Outros Documentos”. Aí reforça o argumento da datação de 11 de Fevereiro de 1270. Refere, em primeiro lugar, um passo da Lenda, relativo ao nascimento de D. Afonso IV, em 8 de Fevereiro de 1291: “…sendo esta Rainha D. Isabel de idade de vinte annos…”. Ora, se D. Isabel tinha apenas 20 anos (inequivocamente “vinte”, por extenso), teria de ter nascido entre 08 e 11 de Fevereiro de 1270. E o facto de a Coroa de Aragão orientar o seu calendário pelo cômputo florentino em nada altera a data em causa, pois o ano da Encarnação de 1271 só teria início no dia 25 de Março seguinte.

Vasconcelos refere que o enlace matrimonial ocorreu no dia 11 de Fevereiro, Quarta-feira de Cinzas! Ora, sublinha o P. Sebastião, ninguém se lembraria de agendar a cerimónia solene do matrimónio para o primeiro dia da Quaresma, um dia de rigoroso jejum e abstinência: “Como se compreende que fosse escolhido este dia para esta cerimónia e festa tão grandiosa e concorrida, como as crónicas relatam, se não houvesse um motivo ponderoso?”. A coincidência do casamento com a Quarta-feira de Cinzas ter-se-á devido à celebração do aniversário natalício, em Barcelona, com o próprio Bispo de Valência como testemunha. Este é mais um argumento para reforçar a fixação inequívoca da data do nascimento de Santa Isabel no dia 11 de Fevereiro de 1270, há 750 anos precisamente!

Neste dia de hoje, em que celebramos o 750.º aniversário do seu nascimento, a cidade de Coimbra devia estar engalanada, em festejos geminados com Saragoça, multiplicando-se em tributos de gratidão, em eventos culturais, em iniciativas solidárias, promovendo todo o tipo de manifestações festivas em honra de tão ilustre e santa padroeira.

Oxalá o povo de Coimbra e as instituições que maior veneração lhe têm saibam honrar tão excelsa padroeira, na medida da devoção que lhe consagram.

Anterior presidente da Confraria da Rainha Santa Isabel

 

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