Sob os auspícios do tema “O que fica do que passa: Um breviário de resistência musical”, o mês de Maio assinala o arranque da 19.ª edição do Festival Terras sem Sombra (FTSS).
Com um cariz fortemente internacional, o programa musical apresenta intérpretes provenientes da Áustria, Bélgica, Espanha, Filipinas, Hungria, Itália, Polónia e República Checa, mas também de Portugal. A temporada estende-se até Dezembro, com actividades de Música, Património Cultural e Biodiversidade em dez concelhos alentejanos.
O regresso de uma temporada musical e cultural ao convívio com os seus públicos, no presente ano, é digno de especial nota, após meses de incerteza face à notícia, em final de 2022, da intenção de não apoio da Direcção-Geral das Artes ao FTSS. Facto que põe em causa a continuação de um projecto pelo qual o Alentejo se bateu muitos anos. “Houve uma motivação de todos os parceiros do Terras sem Sombra para não se perder este elo que une as quatro sub-regiões do Alentejo e apresenta a região como um todo. Houve também uma reaproximação de entidades que ultimamente não tinham conseguido apoiar o Festival”, salienta Sara Fonseca, directora executiva do FTSS, que acrescenta:
“fez-se um esforço gigantesco para pôr no terreno esta edição, com algumas limitações, mas preservando o fundamental – a excelência da programação nos domínios da música, do património cultural e da biodiversidade, em pontos-chave do Alentejo, abrangendo os distritos de Portalegre, Évora, Beja e Setúbal”. Esta edição conta com múltiplos apoios, nomeadamente “dos municípios e da sociedade civil, cuja intervenção na cultura começa a constituir uma raridade, mas se afigura essencial para a liberdade criativa e a apresentação do Alentejo como um todo. É de registar também a interacção com a Direcção Regional de Cultura do Alentejo, que conhece bem o terreno que pisamos.
Da parte de países com os quais colaboramos há anos existiu também um claro estímulo, transmitido pelas respectivas embaixadas, no sentido da importância da continuidade”, destaca Sara Fonseca que, contudo, acrescenta: “os apoios locais e internacionais mostram-se relevantes, mas não suficientes. Não será possível continuar, além de 2023, se não for retomado o apoio da Direcção-Geral das Artes”. Ferreira do Alentejo é o concelho anfitrião do primeiro fim de semana de actividades
Com Ferreira do Alentejo a apresentar-se como anfitriã do primeiro fim-de-semana de actividades, a 13 e 14 de Maio, há a destacar o concerto de abertura (13 de Maio, 21h30), sob a égide da Embaixada Austríaca, com a presença de dois artistas em ascensão no panorama musical internacional: Johannes Fleischmann (violino) e Sabina Hasanova (piano). Radicados em Viena, os intérpretes levam ao Alentejo “Ontem, Hoje, Amanhã: A música em Tempos Incertos”, um programa excepcional onde se destacam obras de grandes compositores austríacos como Franz Schubert, Alexander von Zemlinsky, Arnold Schönberg ou Eric Zeisl e do russo Aleksey Igudesman. Num ambiente cénico único – o Lagar do Marmelo, do grupo Nutrifarms, da autoriado arquitecto Ricardo Bak Gordon –, o programa propõe um fio musical que levará o público do século XIX ao período contemporâneo.
À Música juntam-se, como habitualmente, as dimensões de Património Cultural e Biodiversidade. Desta forma, a 13 de Maio, às 15h00, o tema é a “Arte Tradicional e Indústria Artesanal: O Mobiliário Pintado do Alentejo”. Com ponto de encontro no Museu Municipal de Ferreira do Alentejo e guiados pelo artesão Vítor Caço, a actividade desvela os segredos de uma arte que, apesar da sua crescente industrialização, ainda mantém vivas tradições e manufactura em Ferreira do Alentejo. O fabrico de mobiliário pintado popularizou modelos decorativos herdados da tradição barroca, rococó e romântica (séculos XVIII e XIX) e reflecte motivos e técnicas pictóricas profundamente enraizados na região. A 14 de Maio, às 9h30, sob o tema “De Recurso Estratégico a Sustentáculo da Vida: A Barragem de Odivelas” (ponto de encontro: Igreja de Nossa Senhora da Conceição, Ferreira do Alentejo) tem lugar a visita a um património com uma área inundada com cerca de 970 ha e um importante local de concentração de diferentes aves aquáticas. Ali, pode-se pescar o achigã, praticar desportos náuticos ou simplesmente repousar. Uma visita acompanhada por Dinis Cortes (fotógrafo de Natureza) e Manuel Canilhas Reis (presidente da Associação de Beneficiários da Obra de Rega de Odivelas), entre outros conhecedores deste lugar muito especial.