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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

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Grande Entrevista: Rita Tavares, Enóloga da Sovibor em Borba.

A Rádio Campanário teve o prazer de realizar uma entrevista exclusiva com Rita Tavares, enóloga responsável pelo prestigiada Adega Sovibor, em Borba. Falamos das tradições e inovações na criação dos vinhos de Sovibor, a da importância da exportação e o impacto das diretrizes da União Europeia no mercado vitivinícola.

Como tem sido este percurso de nove anos como enóloga dos vinhos Sovibor e também como proprietária?

Rita Tavares: Tem sido um desafio constante ao longo destes anos. Todos os anos trazem novos desafios. Não é fácil chegar de uma região do Norte ao Alentejo. Acho que a palavra ideal é mesmo “desafio” e vir um bocadinho à luta, à descoberta do lado bom do Alentejo. Todos os anos aprendemos um pouco mais, e agora já somos mais alentejanos do que éramos há nove anos. É uma gratidão estar cá e poder levar mais além todo o nosso projeto, tudo aquilo que de bom e de melhor se faz em Borba e no Alentejo.

Qual é diferença entre produzir vinhos no Norte e produzir vinhos alentejanos?

Rita Tavares: Nós temos a sorte de estar numa região com um terroir de excelência, o que nos permite fazer vinhos excecionais, diferentes, elegantes, e com uma frescura que nos surpreende pelo lado bom. Este é, sem dúvida, um desafio enorme: trazer e dar a conhecer um Alentejo diferente, um Alentejo de frescura ao restante país. No Norte temos outra frescura e tipicidade, mas Borba tem um terroir por excelência que nos permite surpreender as pessoas que provam os nossos néctares.

Em relação às uvas que chegam à Sovibor, de onde provêm?

Rita Tavares: Os nossos 200 hectares são da sub-região de Borba. Cerca de 40% da nossa vinha são vinhas velhas, o que nos permitem fazer vinhos com uma identidade muito própria e uma qualidade extrema.

Quais são as castas mais utilizadas nos vinhos da Sovibor?

Rita Tavares: Damos preferência às castas mais tradicionais, como o Syrah, Alicante Bouschet, Castelão, Trincadeira e Aragonês. Estas são a base dos nossos lotes. Temos também castas mais especiais, como Moreto, Carignan, Tamarez e Rabo de Ovelha, especialmente nos vinhos de talha, que preservamos com muito carinho.

Como se fabrica um vinho de talha?

Rita Tavares: O vinho de talha é um vinho único que nos permite viajar no tempo de dois mil anos. A ciência aqui é mínima. Vamos ao campo, escolhemos as uvas, neste caso o Moreto, apanhamos tudo em caixas de doze quilos e vinificamos pelo método tradicional em talha. A excelência vem da casta em si, do trabalho que a talha faz ao vinho, e da tradição.

Vivem-se bons momentos em termos de vinhos e cultura, mas há preocupações em relação ao excesso de vinho em adegas e dificuldades em escoar o produto. Como está a Sovibor a lidar com esta situação?

Rita Tavares: Atualmente, a conjuntura não é favorável. Vimos de anos de pandemia e guerras, o que tem instabilizado o mercado, tanto nacional como de exportação. Tentamos fazer algumas promoções no exterior e abrir novos mercados, mas tem sido um passo de cada vez.

Quais são os principais mercados de exportação da Sovibor?

Rita Tavares: Estamos presentes no Brasil, Canadá, Inglaterra, Suíça e um pouco por toda a Europa. O Brasil continua a ser o nosso maior mercado, onde temos trabalhado muito bem.

Há receios sobre as diretrizes da União Europeia e o impacto do olival na viticultura. Como vê a Sovibor esta situação?

Rita Tavares: Atualmente, há um excesso de vinho no mercado, por isso até pode ser ideal não haver plantações de novas vinhas. Estamos sempre atentos às diretrizes da União Europeia para perceber o futuro da viticultura em Portugal.

Qual é a produção atual da Sovibor?

Rita Tavares: Estamos com uma produção de um milhão e seiscentos mil quilos anuais.

Como vive a responsabilidade de não poder falhar como enóloga?

Rita Tavares: Essa é a minha realidade e o meu objetivo. Para sermos melhores, temos de lutar connosco próprios. Quero ser melhor que a minha edição do ano anterior. Para mim, não posso errar.

Qual foi a sua melhor versão como enóloga?

Rita Tavares: Posso dizer que tenho projetos de 2020 muito especiais que chegarão ao mercado em breve. Todos os anos consigo fazer coisas diferentes e inovadoras, e os consumidores têm dado um feedback cada vez melhor.

Pode uma enóloga fazer milagres com a qualidade da uva com que trabalha?

Rita Tavares: Não fazemos milagres. Se tivermos uma boa uva, tudo é mais fácil. Um bom vinho parte de uma boa base, e ter boa uva é fundamental para o sucesso.

Qual é a opinião mais assertiva sobre um bom vinho: a sua ou a dos críticos?

Rita Tavares: Em casa, nunca fazemos vinho ao nosso gosto pessoal, mas sim em busca do mercado e das novas tendências. Pode ser um vinho excecional para mim, mas pode não ser bem entendido pelo mercado. A opinião dos críticos e dos consumidores é fundamental.

A Sovibor está pronta para continuar a surpreender o mercado com vinhos de qualidade.

Rita Tavares: Sem dúvida. O nosso objetivo é sempre sermos a melhor versão de nós próprios e levar mais longe o nome de Borba e do Alentejo.

Rita Tavares, é evidente que a paixão pela enologia e o compromisso com a excelência são as forças motrizes por trás do sucesso da Sovibor. A dedicação em preservar a tradição, enquanto se inova e se responde às exigências do mercado, tem colocado os vinhos de Borba no mapa nacional e internacional.

Rita Tavares: Sem dúvida. O nosso objetivo é sempre sermos a melhor versão de nós próprios e levar mais longe o nome de Borba e do Alentejo.

Com esta entrevista, fica claro que a Sovibor, sob a liderança dedicada de Rita Tavares, continuará a ser uma referência no mundo dos vinhos, preservando o que de melhor se faz no Alentejo e projetando-o para além-fronteiras.

Entrevista: Augusta Serrano

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