A Gruta do Escoural, incluindo o seu Centro Interpretativo, estarão encerrados ao público entre os dias 11 de outubro a 15 de novembro, por motivos de trabalhos no interior, anunciou a Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, segundo avança o “Sul Informação”.
Os trabalhos passam pelo «levantamento 3D» do interior da gruta, «sem a presença de público», acrescenta a autarquia.
A Gruta do Escoural constitui uma cavidade natural formada num afloramento granítico implantado numa vasta faixa de calcários, numa zona de verdadeira encruzilhada localizada entre as bacias hidrográficas do Tejo e do Sado e a peneplanície alentejana. Encontrando-se parcialmente selada por um espesso manto estalagmítico, é constituída por várias salas e galerias que atestam, grosso modo, cerca de 50 000 anos de História, ilustrados pelas representações gráficas realizadas no seu interior.
A primeira ocupação remonta ao Paleolítico Médio, quando grupos de caçadores-recolectores neanderthalenses utilizaram a Gruta como abrigo temporário durante a prática da caça, cujo alvo principal seria, entre outros, o auroque, o veado e o cavalo, a julgar pelos vestígios osteológicos aí encontrados. Durante o Paleolítico Superior (35 000-8 000 a.C.), o espaço da Gruta sofreu um reaproveitamento, surgindo, então, um santuário rupestre concebido por grupos anatomicamente considerados modernos. Data precisamente desta época a utilização das paredes do seu interior como suporte de realização de diversos motivos artísticos, inseridos no vasto universo da denominada “Arte Pré-histórica”.
No epicentro destas representatividades encontra-se sempre o elemento faunístico, com especial destaque para os equídeos e os bovídeos, geralmente pintados a negro. Está ainda presente um outro conjunto de componentes realizado a encarnado, com uma carga simbólica que muito dificilmente poderemos interpretar, pelo facto de se conectarem, muito provavelmente, a uma imagética e espiritualidade muito próprias, das quais se perderam, há muito, os registos.
Foi, contudo, somente com a emergência do Neolítico (5 000 a.C.-3 000 a.C.), que a Gruta foi transformada em cemitério das comunidades de agricultores e pastores localizadas nas suas imediações. O ritual funerário é composto de deposição, à superfície, do morto no seu interior, acompanhado de espólio constituído por diversos artefactos, tais como vasos cerâmicos, machados e enxós em pedra polida, lâminas e lamelas em sílex, além de diferentes tipos de adornos realizados em osso e concha.
Terão sido estes mesmos grupos populacionais que, aproveitando as lajes calcárias do exterior da Gruta, gravaram diversos motivos esquemáticos e animais estilizados, formando um santuário rupestre ao ar livre no cerro que se lhe sobrepõe.
Quando, no final do Neolítico, a Gruta foi encerrada, o seu espaço começou a ser habitado por comunidades do Calcolítico (2 000 a.C.), construindo-se um povoado fortificado, assim como um tholos megalítico de falsa cúpula, situado a uma distância de cerca de 600 metros, caracterizado por câmara circular, corredor e átrio de acesso ao seu interior.
Os diferentes espólios encontrados, quer em contexto habitacional, quer funerário, parecem evidenciar a prática agrícola, pastorícia e mineira destas populações.
Tendo sido descoberta ocasionalmente a 17 de Abril de 1963, deu-se de imediato início a uma campanha de escavações da responsabilidade do Museu Nacional de Arqueologia, ao mesmo tempo que o sítio era classificado como “Monumento Nacional” em 25 de Outubro do mesmo ano, e adquirido pelo Estado Português em 1998.
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