O porco de raça alentejana, uma joia do Alentejo, desempenha um papel fundamental na preservação da cultura e economia da região. Este animal, muitas vezes confundido com outros suínos de pelagem escura, é uma raça única, profundamente enraizada na história e ecossistema alentejanos. Rui Charneca, professor do Departamento de Zootecnia e investigador do MED, da Universidade de Évora, destaca a importância deste animal: “A importância do porco de raça alentejana é muito anterior à existência de reis em Portugal, e o seu papel no aproveitamento do montado é indesmentível”.
Descendente do javali do sul, o sus mediterraneus, o porco alentejano é parte de uma longa tradição que remonta aos tempos em que os porcos ibéricos habitavam os montados do oeste e sudoeste da Península Ibérica. Nestes bosques mediterrâneos, repletos de azinheiras e sobreiros, os porcos alentejanos encontravam a base da sua alimentação em bolotas e landes, especialmente durante o inverno, enquanto suportavam os verões escassos de recursos. Este ambiente desafiador moldou um animal robusto e adaptado às particularidades do Alentejo.
Hoje, o porco alentejano é essencial para a economia da região, sendo criado em sistemas extensivos que respeitam e preservam o montado, um ecossistema vital do Alentejo. A sua carne, reconhecida pela qualidade superior, é utilizada tanto no consumo fresco quanto na produção de enchidos tradicionais, que refletem o saber ancestral da região. A preservação desta raça é uma questão de orgulho e identidade para o Alentejo, sendo valorizada mundialmente pela sua autenticidade.
“O porco alentejano é uma mais-valia, sobretudo para as regiões extensivas de sequeiro”, afirma Rui Charneca, sublinhando a importância deste animal para os montados de sobro e azinho, onde os porcos pastam livremente durante 18 a 24 meses. Este regime de criação, aliado ao ambiente natural do Alentejo, resulta numa carne de sabor inigualável e qualidade garantida.
O Alentejo possui as condições ideais para a criação do porco alentejano, tornando-se um exemplo de produção animal sustentável, economicamente viável e socialmente respeitada. Este animal não é apenas uma parte essencial do passado alentejano, mas continua a ser um elemento central para o futuro da região, combinando tradição e inovação na produção de alimentos de alta qualidade. O porco alentejano simboliza, assim, a resiliência e a riqueza cultural do Alentejo, perpetuando uma herança que é motivo de orgulho para todos os que se dedicam à sua preservação.
