O Hospital do Espírito Santo (HESE), em Évora, assinala esta quinta-feira, o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio.
Como descreve a HESE, “setembro, como mês da prevenção do suicídio, obriga-nos a (re)pensar uns nos outros, uns pelos outros. As estatísticas atuais sobre o suicídio são dramáticas. As taxas de suicídio estão a aumentar no mundo e de forma preocupante nas faixas mais baixas da população. A Organização mundial da Saúde refere o suicídio como a 13ª causa de morte (a 3ª no grupo etário dos 15 aos 34 anos e a 2ª nos jovens dos 15 aos 19 anos). Precisamos de nos proteger uns aos outros”.
Este ano, o Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do HESE assinala este mês alertando para alguns mitos que subsistem em relação ao suicídio e que interessa desmistificar para que as pessoas se ajudem mais e estejam mais atentas, com o slogan “(Re)pensar uns nos outros, uns pelos outros”. A partir do dia 10 de setembro, dia que se assinala, a nível mundial, a prevenção do suicídio serão divulgadas nas redes sociais e no site do HESE (www.hevora.min-saude.pt) várias mensagens sobre este tema.
Madalena Serra, Psiquiatra e Diretora do Departamento, realça que “é muito preocupante que, nos dias de hoje, haja pessoas que arrastem o seu sofrimento psíquico anos a fio, sem tratamento, verificando-se uma progressiva desesperança no processo de melhoria e perda de anos de vida saudáveis. É também igualmente preocupante que, nos dias de hoje, haja pessoas sem acesso a cuidados de saúde mental adequados.”
O Plano Nacional de Prevenção do Suicídio (PNPS) constitui uma estratégia e determina como objetivos “aumentar o acompanhamento de pessoas com ideação suicida, comportamentos auto-lesivos e atos suicidas; e aumentar o acesso a cuidados diferenciados através da criação de consultas especializadas em todos os distritos”. A aposta na qualidade e acessibilidade da prestação de serviços de saúde mental é certamente uma das formas mais estruturais de prevenção do suicídio. Neste sentido e em cumprimento do estipulado no PNPS, o DPSM do HESE EPE tem feito um investimento direcionado à intervenção na área do suicídio, tendo em funcionamento, há cerca de um ano, uma consulta específica de intervenção em crise, de modo a dar uma resposta célere a utentes com risco de suicídio ou de comportamentos auto-lesivos. Todos os técnicos do DPSM do HESE EPE estão empenhados numa crescente resposta eficaz, tanto interventiva como preventiva, à nossa população.
No contexto atual em que vivemos, alguns fatores de risco conhecidos para o suicídio poderão estar mais presentes (como exemplos, o maior isolamento social e a menor procura dos cuidados e serviços de saúde) e podem ter maior expressão individual em settings concretos, como é o caso dos adolescentes com fraca rede social, onde a fragilidade humana se torna, na visão do próprio, insuportável.
“Devemos estar atentos uns aos outros. Não devemos confundir distanciamento físico com distanciamento social e afetivo”, e a Diretora reforça ainda que “é fundamental dotarmos a sociedade onde nos inserimos de capacidade de avaliação técnica formal para uma identificação precoce dos fatores de risco de suicídio e, também, de situações de doença que condicionem o aparecimento de ideias de morte para delinear uma intervenção clínica eficaz. A depressão é uma dessas doenças.”
Nos municípios mais rurais, nomeadamente na região do Alentejo, verifica-se uma prevalência de suicídios mais elevada face ao restante território nacional, o que exige que os serviços locais de saúde mental se dediquem também a uma melhor caracterização do fenómeno do suicídio na região. Madalena Serra indica que “relativamente a este fenómeno da prevalência de suicídio, no caso concreto do Alentejo, os serviços locais de saúde mental têm em curso dois projetos de investigação em simultâneo nos diferentes distritos. São projetos iguais em Évora, Beja e Portalegre. Em Évora os projetos já foram propostos e aprovados pela Comissão de Ética e a investigação avançará em breve.
À semelhança do panorama mundial, a mortalidade por suicídio em Portugal também tem tido uma evolução crescente na última década. Os dados do Instituto Nacional de Estatística relativos a 2016 indicam uma taxa de mortalidade por suicídio de 9,4 por 100 000 habitantes. Os dados relativos às tentativas de suicídio e atos auto-lesivos, têm uma prevalência estimada de quase 20 vezes superior à das mortes por suicídio.