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Luís Godinho: Victor Martelo deixa um importante registo histórico dos desafios das autarquias pós-25 de Abril

O responsável pela Mundobtuso, Luís Godinho, que editou o Livro “Memórias da Minha Vida”, do Comendador  Victor Martelo — presidente da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz de 1976 a 2009—, considera a obra como um importante registo histórico dos desafios das autarquias logo a seguir ao 25 de Abril de 1974.

“Há um capitulo sobre visitas ao concelho por Presidentes da República e primeiros-ministros, mas eu valorizo mais o depoimento que ele deixa sobre o que foi o seu trabalho nas questões que se colocavam logo a seguir ao 25 de Abril, como o abastecimento de água, o saneamento, a resposta às necessidades básicas das pessoas, e ele é muito pormenorizado, deixa um registo muito importante, um registo histórico para conhecermos esse período”, diz Luís Godinho em declarações à Rádio Campanário.

Luís Godinho que define numa só palavra Victor Martelo, condecorado em 2015 pelo Presidente da República, Cavaco Silva, com o Grau de Comendador da Ordem de Mérito: “Democrata”.

O responsável pela editora Mundobtuso acrescenta ainda que “este livro, para a editora, corresponde a um trabalho com bastante significado, precisamente por se tratar de uma pessoa como Victor Martelo. Foi o primeiro presidente desta Câmara eleito, porque até ai os presidentes de camara eram nomeados. E isto acontecer nos 50 anos em que se celebra o 25 de Abril é algo com um significado muito profundo; do ponto de vista da cidadania e que seja feito com o apoio do Município de Reguengos de Monsaraz, que por acaso até é de uma cor partidária diferente da do homenageado. Tem outro significado, ainda mais profundo e que nos deveria servir de farol num tempo tao marcado por radicalismos, por incapacidade de aceitar e compreender o outro”.

Por tudo isto, “este foi um projecto no qual me emprenhei muito e que deu muita alegria de o ter conseguido colocar de pé a tempo de ser lançado neste dia com este simbolismo todo”, frisa Luís Godinho, realçando que à medida que ia lendo o livro foi descobrindo praticamente tudo sobre o Comendador.

“Ele faz revelações sobre a infância, a família humilde onde nasceu, o tio que tinha a alfaiataria, as primeiras letras passadas na escola que era só de rapazes, as reguadas que levou por ter conseguido desviar as respostas ao teste de matemática, todo um percurso de infância e de juventude que creio que ele revelou pela primeira vez — seria apenas conhecido da família — e que ajuda a enquadrar e a traçar o seu percurso até à entrada na política por volta do 25 de Abril”, diz Luís Godinho.

Mas há outras “revelações curiosas sobre a aceitação do convite para ser candidato a presidente da Câmara. Ele andou a fugir a esse convite. Sabia que ia ser desafiado a fazê-lo. Então, num domingo foi ver um jogo de futebol do Atlético de Reguengos dentro do carro, precisamente para tentar evitar esse contacto que acabaria por acontecer mais tarde. Aceitou e foi presidente da Câmara 33 anos”.

Entrevista de Augusta Serrano; Texto de Carlos Caldeira

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